por André Pomponet*
Ano que vem completam-se 20 anos que José Ronaldo de Carvalho (DEM) foi eleito prefeito da Feira de Santana pela primeira vez. Foram quatro vitórias sem grandes embaraços: todas elas aconteceram no primeiro turno, com expressiva vantagem sobre os concorrentes. Isso em 2000 e 2004 – na primeira sequência de dois mandatos – e em 2012 e 2016, noutra sequência de dois mandatos. De quebra, elegeu Tarcízio Pimenta, então no DEM, também no primeiro turno, em 2008.
Nenhum grande município brasileiro ostenta hegemonia tão longa de um único partido. Mais ainda: na prática, de uma única liderança política. Afinal, em 2008, Tarcízio Pimenta se elegeu com o bordão do “terceiro mandato”, o que apenas reforçou o papel do ex-prefeito como grande fiador daquele pleito. Embora popular, dificilmente o então deputado estadual prevaleceria nas urnas com tanta facilidade.
O total de votos e o percentual no universo de votos válidos do ex-prefeito vêm crescendo. Em 2000 – quando se habilitava para suceder o controverso prefeito Clailton Mascarenhas – José Ronaldo prevaleceu com 61,4% dos votos válidos. Foram, no total, 126.230 sufrágios. Naquela época, o cenário era amplamente favorável: Paulo Souto (PFL) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) conduziam, em Salvador e Brasília, governos alinhados com o seu grupo político.
Em 2004, nova vitória na disputa pela reeleição, sem maiores dificuldades: o percentual de votos válidos saltou para 68,49%, com 170.162 votos. Paulo Souto (PFL) se reelegera logo no primeiro turno em 2002, mas, no cenário nacional, a condução era do Partido dos Trabalhadores (PT), com Lula eleito presidente da República. Um adversário político, portanto.
Vitórias em sequência
O pleito mais arriscado foi justamente o de 2008, quando Tarcízio Pimenta concorreu pleiteando um “terceiro mandato” para sinalizar a identidade com o popular ex-prefeito que deixava o cargo. Prevaleceu no primeiro turno: 54,05% do total de válidos, com 148.448 votos. Colbert Martins (PMDB) e Sérgio Carneiro (PT) ensaiaram algum fôlego, mas ficaram pelo caminho. O desafio foi ainda maior porque a União e o Estado estavam, então, sob o controle do PT.
Quatro anos depois as desavenças entre José Ronaldo e Tarcízio Pimenta vieram à tona. E o ex-prefeito resolveu tentar um terceiro mandato, agora de fato. Prevaleceu sem maiores percalços: amealhou 66,04% dos votos válidos e cravou quase 200 mil votos: 195.967. Naquele momento, o petismo vivia o seu auge, mas mesmo assim o candidato se impôs, obtendo mais uma vitória maiúscula.
Talvez a vitória mais tranquila da série tenha ocorrido há quatro anos, em 2016. Foram 212.408 votos e 71,12% dos votos válidos, números espantosos para uma cidade do porte da Feira de Santana. Foi ano de intensas turbulências políticas, com a deposição de Dilma Rousseff (PT), a ascensão de Michel Temer (MDB) e uma intensa ojeriza às legendas de esquerda.
Cenário ímpar
Ano passado José Ronaldo renunciou para disputar o governo da Bahia. Perdeu, mas assegurou uma vitória simbólica aqui na Feira de Santana, batendo o petista Rui Costa, candidato à reeleição, por 147,5 mil a 133,5 mil. Ninguém duvida, portanto, que ele segue como o grande fiador das eleições de 2020 no município. Apesar do petismo permanecer no poder na Bahia, em Brasília a legenda deixou de dar as cartas, o que dilui o poder e o peso da máquina pública nas demais instâncias. Em tese, o cenário é mais favorável.
Há quem aponte o desgaste natural da prolongada permanência no poder. Isso, porém, não se refletiu ainda nos resultados eleitorais. Tanto que a votação do ex-prefeito é crescente ao longo do tempo e não o contrário. Obviamente, cada eleição tem uma história própria, mas o passado sempre ajuda a entender o presente e a antecipar o futuro.
No momento, porém, seu candidato permanece como favorito, até porque não há nenhuma novidade eleitoral no horizonte: os nomes são os mesmos das eleições anteriores. Quem se insinua tende a recuar mais adiante, como sempre acontece.
Movidos a novidade, os incontáveis analistas políticos feirenses forjaram uma dúvida, só para emprestar alguma emoção ao pleito que se aproxima: José Ronaldo vai apoiar mesmo a reeleição de Colbert Martins para a prefeitura?
André Pomponet é jornalista e economista com especialidade em ‘Política Pública e Gestão’ Governamental
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