A “Caneta azul, azul caneta” é uma maravilha. Sua letra inocente demonstra respeito à professora, pois o aluno fica preocupado e sentido por ter perdido a caneta azul. Mas há mais coisas ali, é só querer enxergar.
Primeiro, chama a atenção o fato de que, ao falar da ida para a escola, o eu-lírico da canção fala em viagem: “Todo dia eu viajo para o colégio”. Ou seja: temos aqui um aluno que mora muito distante da escola, talvez na zona rural, e sua ida e vinda para o colégio é tão demorada que chega a ser uma viagem.
Além disso, a outra caneta do aluno é amarela, e meu palpite é que essa cor não foi escolhida por uma mera questão de rima. Vermelha ficaria melhor e mais plausível. Por que amarela, então? Penso que o eu-lírico tem poucas posses e a caneta amarela teria sido doada por alguém ou até mesmo achada pelo aluno.
No final, o aluno pede que a professora não brigue com ele e afirma que dará um jeito de comprar outra caneta azul. Fiquei pensando se não foi a professora que deu as duas canetas.
Portanto, meus amigos e minhas amigas, para mim, “Caneta azul, azul caneta” é um lampejo de simplicidade e pureza no meio de tanta desgraça que estamos vivendo.
Rafael Rodrigues é feirense, escritor e revisor. Autor do livro “O escritor premiado e outros contos” (Multifoco, 2011) e um dos contistas das antologias “O livro branco – 19 contos inspirados em músicas dos Beatles + bonus track” (Record, 2012) e “Tardes com anões” (Vento Leste, 2011)
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