por André Pomponet*
O petê resolveu surfar na onda militar que fez tanto sucesso nas eleições de 2018. Em Salvador, a legenda pretende lançar uma major da Polícia Militar, Denice Santiago, como candidata à prefeitura, numa concertação dos cardeais da legenda. O arranjo, pelo jeito, ejetará quatro pré-candidaturas do partido. É o que noticia a imprensa soteropolitana. Por enquanto, nenhum dirigente do PT desmente as articulações. Além de não ser filiada à legenda, a militar não tem experiência político-partidária anterior.
Noutros tempos, a costura causaria espanto. Afinal, o festejado Partido dos Trabalhadores não tinha – até agora, ressalte-se – nenhum laço mais forte com os quarteis. Subitamente, o partido resolveu cogitar a policial, que ano retrasado chegou a ser sondada para ser candidata a vice-governadora na chapa de José Ronaldo de Carvalho (DEM), o ex-prefeito feirense.
O repertório militar nesta fase pré-eleitoral não se esgota aí. Afinal, faz tempo que o deputado federal Pastor Sargento Isidório figura como postulante ao Palácio Tomé de Souza. Aliás, em 2016, ele também foi candidato a prefeito, no amplo arco de aliados do petismo. Sem grandes concorrentes, o prefeito ACM Neto, candidato à reeleição, venceu sem dificuldade no primeiro turno.
A mística militar está presente também no terceiro nome consolidado da aliança petista. Ângelo Coronel (PSD), senador eleito em 2018, também anunciou que está no páreo. O ex-prefeito de Coração de Maria soma-se à trinca com a patente mais elevada – mesmo sendo civil – junto com a major e o sargento. Composição digna de causar inveja à turma do Planalto.
E Feira?
Na Feira de Santana o petismo não sacou nenhum militar da manga do paletó. Isso porque o deputado federal Zé Neto – que é advogado – é nome certo desde o primeiro semestre do ano passado. Isso, não necessariamente, vai impedir o partido de empregar estratégia similar por aqui. Nada impede que o candidato a vice-prefeito exiba alguma patente, por exemplo.
Também é possível que o candidato a vice saia de alguma igreja evangélica. Afinal, este é outro segmento cuja importância é crescente no cenário eleitoral. O próprio Lula, recém-saído da prisão, vem comentando que o PT precisa se reaproximar dos evangélicos. É uma sinalização de tentativas de parceria Brasil afora? Tudo indica que sim.
Resta saber o que pensa o eleitor tradicional do PT. A gente dos sindicatos, dos movimentos sociais, do meio acadêmico, vem perdendo espaço na legenda. Isso desde, pelo menos, a posse de Lula no primeiro mandato, no já distante ano de 2003. No começo, prevaleceram os políticos tradicionais, de centro-direita; hoje, a legenda acena para militares e evangélicos.
Há quem apele, sempre, para o discurso da reinvenção. Ajustar-se à realidade é imperativo na política. Mas já há quem fareje que o PT está “endireitando” também…
*André Pomponet é jornalista
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