por Jolivaldo Freitas
Chegou a hora de pagar a dívida que foi acumulada para poder brincar o Carnaval. É tempo também de quitar o que foi deixado de pagar para ter o dinheiro do camarote e do abadá, senão a luz será cortada, o síndico vai mandar cobrar a taxa de condomínio na Justiça e o banco vai extrapolar nos juros do cheque especial de mais de 150 por cento ao ano. Tem também a escola dos filhos e o cartão da Renner, Riachuelo e Mariza.
É por essas e outras – sem falar em quem foi expulso de casa – que, quando a festa acaba, começa o desespero. Bate a paúra. Um certo banzo. É hora da realidade nua e crua.
Bell Marques, Ivete, Claudinha, Léo, Kannário e tantos outros ainda têm muito a comemorar, pois a fatura já foi enviada e paga, seus caixas fortalecidos – e eles merecem pois venderam alegria
em profusão. Mas, para os comuns, os meros mortais, passada a euforia, a descontração, o reggae, chega a depressão: a primeira a cobrar.
Vem a vez da falta de coragem para enfrentar a dura realidade. A música e a fantasia ficaram para trás. Olha-se para a frente e somente o que se vê são as agruras de um Brasil politicamente dividido, o desemprego tão galopante, que dizem, em certos momentos tinha mais ambulantes nos circuitos do Carnaval que folião. Quem ganhou dinheiro de verdade foi quem vendeu isopores para as pessoas que estavam na chamada economia informal.
Os psicólogos e psicanalistas sempre se deram ao trabalho de avaliar o que ocorre com os foliões quando a festa acaba. A depressão pós- Carnaval. A válvula de escape fechada vem a
sensação de vazio. O distanciamento da realidade cotidiana voltou a encolher. Acabou a fantasia. Hora de mudar de período emocional. A psicóloga e coach Maíra Mendes, da clínica Onmental Espaço Terapêutico, diz que a ocasião funciona como uma válvula de escape para fugir da realidade. “A pessoa se entrega à festa e dias depois precisa encarar a realidade. Fica uma sensação de vazio, uma melancolia”.
A psicanalista Cristiane Barreto, da Associação Mundial de Psicanálise (AMP) garante não haver embasamento conceitual para a “depressão pós-Carnaval”. Mas, concorda que a tristeza
e o sentimento de ausência relacionados ao fim do Carnaval dizem respeito a um distanciamento da realidade.
“No Carnaval, as pessoas podem se despir das próprias máscaras e viver de forma mais intensa. Com o fim do período e das alegrias em alta, os sujeitos podem mesmo se deparar com uma ausência”.
Os especialistas apontam como um conceito contemporâneo e que embute as folias momescas, o conceito de felicidade em tempo integral, todos os dias e todo o tempo. E rechaçam a busca de fazer o cotidiano um eterno Carnaval.
A realidade, nem precisava ser dita, é de enfrentamento dos problemas e até mesmo da inércia. Seria bom ser feliz todos os dias, mas…. Até mesmo as relações humanas conduzem à realidade mais plúmbea. O Carnaval ´cheio de cores, cheiros e sabores. Daí que o Carnaval preocupa os especialistas, por passar a ser mais um elemento factual no index dos elementos que levam à depressão. Ainda mais que, de acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior prevalência de depressão na América Latina: 5,8% da população, ou seja, 11,5 milhões de brasileiros, sofrem da doença. No ranking mundial, o Brasil ocupa o terceiro lugar. Então, só faltava era o Carnaval virar motivo. Logo Momo?
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Escritor e jornalista. Autor do romance “A Peleja dos Zuavos Baianos contra Dom Pedro, os
gaúchos e o Satanás” e “Histórias da Bahia – Jeito Baiano”.
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