
por André Pomponet*
O Produto Interno Bruto brasileiro, o PIB, cresceu só 1,1% em 2019. É o que informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. O indicador afere a soma de riquezas produzidas pelo País. Depois do monumental tombo de 2015 e 2016 – quando a retração, somada, alcançou impressionantes 6,8% – a festejada retomada tem sido muito lenta. Em 2017 e 2018, por exemplo, não foi além de 1,3% em cada ano.
Parte dos analistas, pelo que se vê, prefere investir no otimismo e enxergar o lado cheio do copo que está bem vazio, diga-se de passagem. Alegam que há crescimento pelo terceiro ano consecutivo. É verdade: mas a expansão é tão pífia que a festejada retomada – sempre figurando nas manchetes – é, na melhor das hipóteses, decepcionante.
É necessário sempre ressaltar que o pior de tudo nem é o resultado em si. É a completa falta de perspectiva no médio prazo. Protagonista do grande tombo do PIB no biênio 2015/2016, o petê negou a crise enquanto pode; depois que foi apeado do poder, resolveu brandi-la contra os adversários. Saída para o enrosco criado pela própria legenda não se viu até agora.
O crescimento vertiginoso – alavancado por incessantes recursos externos – viria com a desregulamentação do mercado de trabalho e com a brutal supressão de direitos dos trabalhadores. Era o que dizia a oposição de ontem que virou a situação de hoje. Não foi o que se viu: as exaltadas medidas conduziram só a esse “pibinho” que se vê aí e à legião de desempregados, desalentados e precarizados.
Medidas como a liberação de parcela do Fundo de Garantia, o FGTS, cumpriram função cosmética e são incapazes, por si mesmas, de induzir uma elevação sustentada do consumo. Sobretudo porque, na direção oposta, o novo regime sufoca o Bolsa Família e comprime o salário-mínimo, por exemplo. De bom, só a inflação sob controle e a taxa de juros muito baixa, o que em parte decorre do cenário de estagnação.
Em suma, a “polarização” que mobiliza essa gincana aspergida com bílis não produz nenhum tipo de resultado na economia. Nem em nenhuma outra esfera, é bom ressaltar. Trata-se de uma guerra de torcidas que se limita à desconstrução. Com o Brasil em frangalhos há muito tempo, porém, é preciso buscar outra direção.
Tudo indica que, em 2020, mais uma vez, o PIB não vai alcançar nem 2%. É o que sinalizam projeções das respeitadas instituições financeiras e de organismos multilaterais. Como desgraça pouca é bobagem, o coronavírus – que está afetando as expectativas de crescimento da economia mundial – soma-se à insensibilidade dos sábios do Ministério da Economia para deprimir ainda mais as expectativas.
É longo o impasse econômico que aflige o Brasil. Pelas ruas, o povo sofre, verga, mas permanece calado. Talvez ainda acredite – erroneamente – que o interminável calvário se aproxima do final…
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