Uma crise sanitária tem nos assaltado nas últimas semanas e nos assustado constantemente. Tem assustado ainda mais as camadas mais pobres e vulneráveis da população.
O documento protocolado pelas lideranças empresariais a prefeitura, tem um que de empoderamento falsificado, pois se reveste de um certo espírito público altruísta. Pura retórica, pois o que faz na realidade é pressionar o poder público para cada vez mais flexibilizar a política de isolamento defendida não por mim, nem pelo prefeito Colbert Martins Filho, mas pela OMS e consensuada em outras unidades da federação.
Os comerciantes, (não posso chamar de empresários), se arvoram a saber mais de política de saúde, mas em seu documento, covardemente, silenciam sobre o possível estrago pelas aglomerações em quantidade cada vez maior que os benefícios econômicos. Os comerciantes travestidos de líderes empresariais assumem o risco de aumentar exponencialmente o contágio e produzir mortes na terra de Lucas.
Vivemos uma crise sanitária sem precedentes, um trauma coletivo, ninguém pediu ou forçou para estarmos nessa situação, nem seu gerente e muito menos o seu vendedor, estamos todos inseguros, com medo duplo, de morrer pelo vírus ou ficarmos desempregados e sem grana para fazer a feira ou até mesmo comprar uma máscara.
Eu esperava que nesse momento, figuras sociais que se consideram lideranças, assumissem uma postura de garantir a estabilidade as pessoas mais vulneráveis em seu entorno profissional e social, infelizmente aqui temos poucos empresários e pelo visto, não estão nos cargos das entidades patronais.
Quero saudar aos empresários de verdade dessa cidade que mandaram seus empregados pra casa, estão garantindo o pagamento de salários, tirando este pagamento de suas reservas pessoais, tenho certeza que este ato de humanidade será recompensado quando tudo passar, pois estes tem se mostrado empresários de verdade.
Mas não posso considerar empresário, aquele que vem a público dizer que está sendo obrigado a demitir, até parece que eles vivem de salário, parece que vendem o almoço para comprar o jantar, pressionando o prefeito e se apequenando publicamente, mostrando a sociedade feirenses que não tem nenhuma disposição a construir uma saída pactuada.
Não vi até agora nenhum deles afirmar que antes de demitir empregados e empregadas, reduziram o lucro, reduziu sua retirada mensal para pagar a Marina em Salvador de seu barco de luxo que custa em média R$30 mil/mês, quantos funcionários não pagariam em sua empresa essa grana? até o momento não se desfizeram do estoque de carros de luxo e motocicletas que ficam as quintas feiras ostentando pelas ruas. As roupas horríveis continuam comprando pelo e-commerce lá de Miami e Paris e recebem em seus condomínios de luxo.
Cadê aquele discurso bonito de chamar empregados de “colaboradores”?
No primeiro sinal de crise querem transferir o ônus para os mais frágeis, nos equiparando a descartáveis. São bons para contar como saíram do nada para uma história vitoriosa de empreendedores e isso é reforçado por alguns pobres de espírito que em busca da sobrevivência bajulam e recheiam com glamour estas opacas existências, mas o presente nos mostra a incapacidade de serem gestores desta crise pandêmica.
Estes sabem administrar lojas, restaurantes, mas tem se mostrado incapazes de analisar a realidade social, de dizer o rumo da cidade, deveriam verificar o comportamento de seus similares em Bergamo na Itália e a merda que lá fizeram e aqui querem repetir.
Estamos passando por um momento doloroso, mas a sociedade precisa tirar lições importantes, pois estes comerciantes que hoje pedem a reabertura do comércio, são incapazes de determinar se este ato fará a Economia Feirense ser reativada no médio prazo, na próxima semana, é preciso que paremos de idealizar estas figuras como empresários, pois não passam de comerciantes, reconstruir Feira de Santana exigirá mais de nós.
Aqui na cidade existem atores sociais que tem mostrado o caminho correto, empresários que se formam em redes de ação coletiva e solidariedade no combate a Covid-19. São estas pessoas anônimas que tem colocado a cidade no rumo necessário de convergência e cooperação, tenho recebido mensagens no privado, de empresários que nem conheço pessoalmente, que tem mostrado que Feira de Santana e o mundo não será o mesmo, é destas pessoas que devemos estar perto, com elas construir uma cidade mais inclusiva e acolhedora de espaços de trabalho e cotidiano.