
Vinte e oito de abril é o Dia Nacional da Caatinga. A Caatinga é um grande ecossistema de floresta seca que recobre cerca de 11% do território brasileiro. Botanicamente, é considerado o único bioma exclusivamente brasileiro.
Foi o engenheiro agrônomo e ecologista pernambucano João Vasconcelos Sobrinho (1908-1989) quem primeiro comprovou que o patrimônio biológico da Caatinga, além de ser muito rico, é único no Planeta. Em sua homenagem, o Dia Nacional da Caatinga foi instituído em 2003.
Para além de comemorar esta data, a Caatinga merece mais um alerta sobre seu atual estado de conservação e a urgência de ações sistemáticas para preservar o bioma.
A Caatinga é um dos biomas menos protegidos do País. Ainda assim, iremos mostrar neste post que um mapeamento recente, publicado no Atlas das Caatingas, constatou que a degradação desse ecossistema tem ocorrido a passos largos, mesmo no interior das unidades de conservação de proteção integral.
De uma maneira geral, a preocupação com a extinção das espécies nativas está na ordem do dia em todos os biomas brasileiros e as políticas de conservação ambiental estão cada vez mais frágeis na sociedade brasileira.
Na Caatinga, a gestão das áreas de conservação de proteção total, administradas pelo Estado brasileiro, tem enfrentado sérios desafios que colocam em risco a preservação das suas riquezas biológicas, especialmente das espécies com maior risco de desaparecerem.
A Caatinga está situada na região semiárida mais populosa do mundo, considerada uma das mais ricas em biodiversidade. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, são 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas. A flora da Caatinga é composta por cerca de 4.479 espécies vegetais, com expressivo número de espécies endêmicas, ou seja, que só existem nessa região do Planeta.
O bioma abrange grande parte dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais, em um total de 844 km2 de extensão. Apesar da grande dimensão da Caatinga, seu patrimônio biológico e genético ainda é pouco conhecido pelos pesquisadores.
Historicamente, o bioma passa por um contínuo e sistemático processo de degradação ambiental, desde o seu processo de ocupação. Dentre os fatores que aumentam cada vez mais o risco de extinção de várias espécies endêmicas da fauna e flora da Caatinga, estão: desmatamento generalizado para agricultura (fator mais impactante, que já atingiu 46% da área original do bioma), extração insustentável de lenha para fins energéticos (uso doméstico e industrial), mineração, pastoreio excessivo de caprinos e bovinos, monocultura e crescente urbanização.
Em algumas áreas da Caatinga, em função dos impactos das atividades humanas sobre áreas de remanescentes florestais, o nível de degradação dos solos atingiu estágio de muito grave, resultando em processo de desertificação.
Dados de monitoramento do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) indicam que os níveis de degradação, em relação às áreas totais de cada estado do Semiárido brasileiro, estão distribuídos da seguinte forma: Alagoas (32,8%), Paraíba (27,7%), Rio Grande do Norte (27,6%), Pernambuco (20,8%), Bahia (16,3%), Sergipe (14,8%), Ceará (5,3%), Minas Gerais (2,0%) e Piauí (1,8%).
A desertificação é a perda definitiva de um patrimônio genético e ecológico da Caatinga, aumentando o risco de o grave problema se alastrar para outras áreas que hoje seguem o mesmo ritmo de degradação. Nessas áreas em processo de desertificação, tornou-se irreversível qualquer iniciativa de conservação da Caatinga ou inviável economicamente as tentativas de recuperação da sua vegetação.
A remoção parcial ou total da cobertura vegetal da Caatinga diminui a cobertura dos solos (ainda jovens e pouco profundos) da Caatinga, deixando-os expostos, resultando no crescente aumento da degradação do bioma.
Mudanças no uso da terra e manejo insustentável dos recursos naturais são as causas humanas diretas da degradação dos solos, afetando adversamente os meios de subsistência de pelo menos 1,5 bilhões de pessoas em todo o mundo.
Em áreas desprotegidas, o manejo florestal sustentável é a estratégia mais adequada para evitar o desmatamento da Caatinga, conservar a biodiversidade e gerar benefícios socioeconômicos, mediante o fornecimento de matéria-prima para atender às crescentes demandas da sociedade.
foto: arquivo/janiorego