
Hoje (21) o comércio da Feira de Santana reabre novamente. É a terceira reabertura desde o começo da pandemia do novo coronavírus, em março. A decisão não se deve a uma queda sustentada no número de infectados, mas à abertura de 40 leitos de UTI, exclusivos para o tratamento da doença, no Hospital Clériston Andrade 2. A unidade foi inaugurada na semana passada pelo governo estadual. Com o aumento no número de leitos – a ocupação chegou a 100% dias atrás – a prefeitura enxerga margem segura para a reabertura.
Já são mais de 100 mortos pela doença na Feira de Santana. O total de infectados bordeja os seis mil. Não calculei, mas imagino que a média diária de novos infectados não seja inferior a 100. A quantidade de casos em alguns bairros assume proporções alarmantes. Mesmo assim, aposta-se em mais uma reabertura.
As medidas adotadas no município são de deixar o cidadão desnorteado. Até o domingo, toque de recolher à noite, restrições à comercialização em feiras-livres e ao funcionamento de estabelecimentos comerciais. Subitamente, anuncia-se a reabertura, sem nenhum tipo de transição, de maneira abrupta. Não sou especialista no tema, mas busco enxergar racionalidade nas medidas adotadas, sobretudo quando elas se dão em sequência.
“Fique em casa” é a recomendação que se ouve por aí, nos discursos de muitas autoridades. O problema é que a abertura das lojas insinua normalidade, retomada da rotina. É para ficar em casa ou ir ao comércio, garimpar liquidações, caçar boas ofertas? Os sinais são contraditórios. Muitos, temerosos – e sensatos –, temem contaminar-se e ficam em casa; outros, destemidos, arrojam-se para as ruas, sem máscara.
A não-solução – decisões divergentes enquadram-se no clássico exemplo de “não-solução” em matéria de política pública, porque conduzem a resultados que se anulam – vem conduzindo o País ao mais dilacerante dos impasses. Abre-e-fecha o comércio, morre gente, muitos se infectam, quem tem medo não sai para comprar, a economia permanece estagnada, não se opta mais pelo lockdown – necessário lá atrás – e o brasileiro amarga o calvário.
Isso vai até quando? Tudo indica que até a descoberta, fabricação e aplicação de uma vacina. Mas é bom não ficar se iludindo. Não existe milagre em ciência, que exige investimento, dedicação e tempo. Quem se guia pelos falsos milagres, vendidos nas insones madrugadas televisivas, vai se decepcionar. Nada garante que, até o fim do ano, haverá vacina na praça. Se houver, ótimo. Mas, e até lá? Quantos vão morrer nesse ciclo vicioso da não-decisão?
Deus é quem sabe. Mas, pelo jeito, ele resolveu dar um tempo em relação à situação do Brasil…
- A Feira ao norte, ao sul, a leste e a oeste - 17/02/2025
- O dublê de rico em mesa de bar - 13/02/2025
- Uma consumista manhã de sábado - 12/02/2025