Não são poucas as lojas fechadas no centro da Feira de Santana. Ontem (24), sob o teto baixo de nuvens acinzentadas, aventurei-me numa caminhada por algumas artérias do outrora pulsante coração comercial da Princesa do Sertão. Nas cercanias do Fórum reina a confusão de máquinas, operários atarefados, ordens e contraordens aos berros, buzinas estridentes, lama ou poeira, – conforme caem as chuvas ou não – transeuntes se arriscando entre os carros, motociclistas em manobras temerárias.
Em contraste, há silêncio e melancolia nas portas corrediças, metálicas, que mantém muitas lojas fechadas e as calçadas vazias. Em algumas, já se observa um vívido anúncio de “Aluga-se”. Noutras – abertas antes da pandemia – o mistério permanece, porque não há sinais exteriores sobre seu destino. Estão fechadas em definitivo? Isso só os próximos dias dirão. Em algumas, noto que não há sinais de sujeira ou abandono. Talvez seja um bom sinal.
Pelos bairros feirenses o cenário não é diferente. Nas vias comerciais também se observam lojas fechadas, o comércio sem aquela pujança de outros tempos. Em algumas delas, avisos lacônicos comunicam sobre funcionamento em esquema de delivery. Outras, com as fachadas já desgastadas, prenunciam coisa pior. Afinal, desde março o comércio vem funcionando com as restrições – incontornáveis – impostas pela Covid-19.
Combalido, o mercado de trabalho feirense – particularmente o setor formal, responsável pelos melhores postos – vergou de vez a partir da pandemia: entre meados de março e maio, 4,2 mil empregos evaporaram. Os números são do Ministério da Economia. Desde então, a situação apenas parou de piorar – falar em recuperação não faz sentido – com apenas 84 postos gerados, no saldo, entre junho e julho.
Os números ajudam a entender as portas corrediças cerradas, o clima de desolação. Por um lado, demitiram-se funcionários porque o repuxo da crise ficou pesado para o bolso do pequeno empresário; por outro, começaram a vender pouco nos momentos de reabertura, justamente porque as demissões em massa e o achatamento da renda reduziram a demanda. Uma catástrofe, como se vê.
Líderes sensatos debruçaram-se sobre ambiciosos planos de proteção ao emprego e de apoio à atividade empresarial em diversas nações. É isso que vai alavancar a retomada nos países governados por gente qualificada. Aqui – berço de um pitoresco e canhestro misticismo liberal – não há estratégia, plano, nada. O País vai ingressar em 2021 aos escorregões, encontrões e tropeções, movido pela agenda eleitoreira de Jair Bolsonaro, o “mito”.
Esse cenário funesto deve retardar a recuperação econômica. Sensatas projeções indicam que só a partir de 2023 o país começa, de fato, a sair do fundo do poço. E olhe lá. Mas é necessário fazer alguma coisa, mesmo que em nível municipal.
Tudo bem que a margem de manobra é estreita e os recursos são escassos. Mas quem assumir a prefeitura em janeiro de 2021 vai ter que se ocupar com a questão. Mesmo que – é bom ressaltar – as necessidades sejam imensas e as limitações orçamentárias, também.
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