Uma liminar concedida em segunda instância, no Tribunal de Justiça da Bahia, suspendeu hoje (18) a remoção de camelôs do centro comercial da Feira de Santana. A medida, desejável, permite que os dois lados ganhem tempo: os trabalhadores dispõem de uma trégua para reforçar a necessidade de diálogo; e a prefeitura, por sua vez, pode adotar uma postura razoável e buscar uma mediação que, até aqui, não houve. É a intransigência da prefeitura, aliás, que conduziu a este impasse.
Quem trabalha pelas ruas feirenses é gente pobre, de poucos recursos. Nem é preciso tanta sensibilidade para perceber. É evidente que não têm condições de bancar aluguel e taxas do festejado shopping popular, ali anexo ao depauperado Centro de Abastecimento. Sobretudo num momento de crise na economia, na saúde pública, na governança do Brasil. A “generosa” isenção – oito meses de carência nas taxas – não é garantia de coisa nenhuma.
Caso fique inadimplente, o trabalhador perde o box. O que é que ele vai fazer da vida? O projeto da prefeitura de revitalização não prevê ninguém mercadejando pelas ruas do centro da cidade. O que é que esses trabalhadores farão? Ninguém responde, porque não existem respostas. Aliás, existem, mas ninguém ousa externá-las. Como quem é mais atento consegue adivinhar, nelas o final não é nada feliz para o camelô…
O leitor lembrará, com razão, que os argumentos já foram apresentados num texto anterior. É verdade. Mas é sempre necessário ressaltar porque muitos não conseguem perceber a amplitude do que se camufla numa supostamente simples remoção, numa desobstrução de calçadas. As calçadas feirenses, aliás, estão obstruídas há décadas. Por que, agora, impõe-se tanta pressa, tanta urgência, num momento de pandemia?
Está na moda, no Brasil, a “historiografia” criativa: inventar um passado que nunca existiu. É o caso dos mentecaptos que negam a ferocidade da ditadura militar. Negam, inclusive, a própria ditadura militar. Aqui na Feira de Santana, queiram certas figuras ou não, os camelôs e ambulantes são parte da essência da cidade, pretérita ou atual. E sempre serão.
Eles e elas geram o próprio posto de trabalho, vendem, consomem, fazem o dinheiro circular e, sobretudo, contribuem para a grandeza dessa cidade que, hoje, completou 187 anos. Altaneira, mas descuidosa de sua beleza, como todo mundo vê.
É necessário respeitar os camelôs e os ambulantes da Feira de Santana!
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