Meu pai tem 95 anos e espera ansioso, há dias, pela vacina contra o novo coronavírus. Não é só ele: convivo com mais gente idosa que está muito ansiosa também. E essa ansiedade se estende àqueles que têm familiares nesta faixa etária. Percebo essa inquietação em grupos de aplicativo de celular, em fiapos de conversas ouvidos pelas ruas feirenses, nos supermercados, nos pontos de ônibus. O fato é que ninguém aguenta mais o arrastar tormentoso da pandemia da Covid-19.
Mas – ao contrário do que prescrevem os genocidas de plantão – só há uma maneira de sair da pandemia: vacinando a população, começando pela população mais frágil, mais exposta à doença em sua versão mais letal. Só assim as pessoas poderão superar o medo e retomar sua rotina. Só assim, também, para a economia começar a sair do atoleiro em que a pandemia e uma gestão criminosa a enfiaram.
Tensão talvez seja a palavra que resuma esses 11 meses para aqueles brasileiros que convivem com idosos ou com quem se encaixa nos grupos de risco. Tensão e medo. Para alguns membros das famílias as saídas são inevitáveis – é necessário ir ao açougue, à padaria, ao supermercado, à farmácia – e o ir-e-vir um mortificante exercício de inquietação: será que me contaminei? Será que não estou doente e não vou passar adiante, matando alguém, talvez um familiar muito próximo?
Pior do que morrer de Covid-19, deve ser a terrível consciência de que se contaminou alguém que, adiante, morreu. Mesmo que seja uma contaminação involuntária. Como lidar com isso vida afora? Não deve ser fácil. Também não é fácil lidar com esse receio enquanto se espera – por quanto tempo mais? – pela vacinação em massa.
Se tudo der certo, meu pai será vacinado amanhã aqui na Feira de Santana. Haverá, para a família, um alívio, um abrandamento da tensão. Mas tudo só se dissipará quando boa parte da população for, de fato, imunizada. Isso, pelo visto, vai demorar muito ainda. Seguirei na fila, com todas as cautelas, aguardando a minha vez. Mas, sem dúvida, um pouco menos tenso do que nos últimos meses…
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