Vem se tornando comum ouvir as sirenes das ambulâncias nos finais de tarde na Feira de Santana. Quando a noite cai e o silêncio do toque de recolher prevalece – é um silêncio tenso, carregado de maus presságios – as sirenes tornam-se perfeitamente audíveis mesmo à distância. Se passam pelas cercanias, por breves instantes tingem a escuridão de um vermelho que angustia. O cenário foi comum há quase um ano, no auge da primeira onda. Agora, com a segunda, impõe-se com matizes mais dramáticas.
O salto no número de mortos é sintomático. A Central de Informações de Registro Civil – CRC Nacional indicava, até hoje (18), 599 mortes confirmadas ou suspeitas de Covid-19 na Feira de Santana. Ontem, a média móvel de mortes havia recuado para duas, depois de permanecer num platô de cinco óbitos diários num intervalo curto – cinco dias – entre 7 e 11 de março. É o mesmo patamar observado entre 15 e 28 de julho, mas com alguma oscilação para baixo naquela época.
Dados da Secretaria Municipal de Saúde indicam que a triste marca de 500 mortes confirmadas foi alcançada hoje. E há muita gente contaminada: 3 mil casos ativos, de acordo com a própria secretaria. O número de novos casos também segue assombroso aqui: 205 só hoje. A média, aliás, permanece acima de 200 já há vários dias.
O pior é que o cenário tende a piorar ainda mais nos próximos dias. O prefeito Colbert Filho (MDB) e profissionais engajados no combate à pandemia reconheceram hoje a gravidade da situação. Mas o povo segue na rua, porque medidas restritivas só são adotadas à noite e nos finais de semana. Como o vírus dá expediente em tempo integral, o resultado é o que se vê.
É bom ressaltar que a completa falta de rumo no combate à pandemia em nível nacional – um magote de mentecaptos ocupa o Planalto Central desde 2019 – torna a situação muito mais grave. Parece que os acólitos de Jair Bolsonaro, o “mito”, preocupam-se apenas em tentar intimidar quem o classifica de “genocida”. O tiro, obviamente, saiu pela culatra: quanto mais tentam intimidar, há mais repercussão, mais o chamam de genocida.
Nesse cenário funesto, é indispensável reduzir o número de saídas e restringir os contatos sociais. Só assim para evitar a exposição ao vírus, cujas variantes mostram-se mais letais. Sobretudo a variante brasileira, que surgiu lá em Manaus. Suprema ironia para os lunáticos adeptos das teorias conspiratórias que compõem as matilhas digitais: o “vírus chinês” tem, agora, uma variante brasileira…
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