Em 1976, o jornal carioca Tribuna da Imprensa, dirigido pelo jornalista Hélio Fernandes que morreu em março passado com 100 anos de idade, registrou a morte do trabalhador rural Joaquim Pereira dos Santos, resultado do conflito fundiário que acontecia em Feira de Santana envolvendo 120 famílias de posseiros, entre os quais estava a de Dionízio Pereira Fonseca, 74, morto de infarto nesta segunda-feira, 10, no Candeal II, distrito da Matinha, Feira de Santana.
Joaquim foi morto com um tiro de fuzil, à queima-roupa, em maio de 1976, durante invasão de soldados da Polícia Militar baiana à fazenda Candeal. O agricultor hoje é nome da escola municipal da comunidade.
Em Feira, na fazenda Candeal, distante dez quilômetros da zona urbana 120 família de lavradores são ameaçados pelo grileiro Emanuel Brito Portugal. Entre outras violências, visando a expulsão dos posseiros, o sindicato local inclui a prática de abrir picadas com trator em torno das plantações em seguida semear capim que se alastra como praga, é o que está escrito nas páginas do famoso jornal que a neta de Dionísio, Luana Fonseca (foto), utilizou como uma das fontes na sua pesquisa sobre o conflito. A Tribuna foi uma das frentes midiáticas mais contundentes no combate à Ditadura Militar e pela volta da Democracia.
No trabalho de Luana as vozes são da comunidade do Candeal 2, atual povoado do distrito rural de Matinha. Quando do ocorrido a Matinha não existia como distrito e fazia parte de Maria Quitéria (São José das Itapororocas).
A memória dos moradores (as) da fazenda Candeal tem um lugar central na construção deste texto. As informações coletadas resultam de conversas informais (que as conversas informais servem para acessar uma literatura oral que se formou e que fala dos eventos centrais da disputa) e formais, entrevistas semiestruturadas que colocam em questão as narrativas que elaboram a formação da história do lugar, ela explica no trabalho que foi apresentado no X Encontro Estadual de História que aconteceu em Vitória da Conquista, ano passado.
Sobre a morte ocorrida no conflito, ela registra trecho da entrevista que fez com o avô:
Começaram a atirar pra cima, foi aí que aconteceu e foi na roça desse José e a casa dele era recém feita, o José que é, que foi preso. É atiraram pra cima depois ai Martiniano foi olhar e eles deram ordem de prisão, Gavião foi olhar recebeu ordem de prisão aí foi a razão que eles ficarem preso. E Joaquim qui tava em casa viu o tiroteio atirando pra cima aí foi, e foi com a espingarda.
A disputa ganhou a esfera judicial. Os trabalhadores rurais ganharam apoio jurídico do MOC e da Fetag e em1982 (próximo ano completa 40 anos) o Instituto das Terras na Bahia, Interba, fez a titulação de posse das terras aos verdadeiros proprietários.