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André Pomponet
quinta-feira, 8 de julho de 2021 / Publicado em Colunistas, Home

Somos todos Botelho?

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“Mas a sua grande paixão, o seu fraco, era a farda, adorava tudo que dissesse respeito a militarismo, posto que tivera sempre invencível medo às armas de qualquer espécie, mormente às de fogo. (…) a presença de um oficial em grande uniforme tirava-lhe lágrimas de comoção; conhecia na ponta da língua o que se referia à vida de quartel; distinguia ao primeiro lance de olhos o posto e o corpo a que pertencia qualquer soldado e, apesar dos seus achaques, era ouvir tocar na rua a corneta ou o tambor conduzindo o batalhão, ficava logo no ar, e, muita vez, quando dava por si, fazia parte dos que acompanhavam a tropa. Então, não tornava para casa enquanto os militares não se recolhessem”.

O trecho é do romance “O Cortiço”, do escritor maranhense Aluísio Azevedo. O parágrafo refere-se a uma personagem secundária na obra, Botelho, um sujeito que vivia de favor – um agregado – na casa de um comerciante português. Era uma espécie de sabujo. O livro foi publicado em 1890, no alvorecer da República Velha. Naquela época, os militares estavam com a bola cheia. Em 1889, protagonizaram a proclamação da República e, nos anos seguintes, exerceriam papel de relevo no novo regime.

O mundo mudou muito desde então e os militares perderam protagonismo, voltaram aos quarteis. Até recentemente isso tinha ocorrido até mesmo no Brasil, que, sob muitos aspectos, teima em permanecer no século XIX, quiçá na Idade Média. Assim, os Botelhos da marcante obra de Aluísio Azevedo reduziram-se durante muito tempo, tornaram-se anacrônicos. A admiração pueril pelo militarismo, idem.

Na adolescência, li e gostei de “O Cortiço”. É uma obra que ajuda a entender muito o Brasil daqueles tempos, do final do século XIX. Quem o lê, trafega pela História; e, como História, costumava-se entender personagens como Botelho, com sua irreprimível paixão militarista. O problema é que o Brasil é tão surpreendente que, vira e mexe, estamos repetindo o passado, mesmo o passado remoto. E repetindo o que há de mais anacrônico, até bizarro. Sendo Botelho.

Afinal, o que se vive por aqui desde 2018, senão uma lastimável volta ao passado? É possível identificar, inclusive, muitos Botelhos do século XXI. Mas o pior é que se consegue, inclusive, combinar o que há de mais nocivo no passado e no presente: o autoritarismo, a truculência, a incompetência, a corrupção – o que está vindo à tona na CPI é espantoso –, a fome, a miséria, a desigualdade e a completa ausência de perspectiva em relação ao futuro.

Muitos, porém, acenam com a fé. Temos que ter fé em Deus. Muita fé. É isso mesmo: só com doses cavalares de anestesia religiosa para não conseguir enxergar o que se passa em volta. Só assim para tornar-se, bovinamente, o Botelho de Aloísio Azevedo.

É isso aí. Querem que sejamos todos Botelho.

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André Pomponet
André Pomponet
Economista pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2002), mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (2012), exerce o jornalismo desde 1995, quando ingressou no extinto jornal Feira Hoje. Posteriormente, atuou em outros órgãos de comunicação e foi Chefe de Redação da Assessoria de Comunicação Social da Câmara Municipal de Feira de Santana.É colunista do Blog da Feira.
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