Existem três variáveis principais para a existência de um bom sistema de transporte público coletivo: densidade residencial, localizações dos usos e conexões entre vias. Todas as demais características operacionais do sistema como frequência, tamanho dos ônibus, tarifa e conforto dependem destas 3 variáveis acima. O que significa isso?
1) Densidade residencial é quantidade de residências por unidade de área. Bairro com maior densidade residencial, é aquele sem vazios urbanos, com casas ou prédios de até 5 pavimentos que não necessitam de grandes recuos. Cidade densa, significa cidade compacta, sem muita dispersão, que prioriza preencher os vazios existentes ao invés de criar outros mais distantes. Os melhores sistemas de transporte público estão em cidades assim
2) Já as localizações dos usos, depende do zoneamento existente na legislação municipal. Bairros com múltiplos usos (comercial, residencial, educação, serviços, etc.) requerem viagens mais curtas e independentes do centro da cidade.
3) Mais conexões entre vias significa mais opções de rotas, e maior otimização das linhas do sistema.
Em resumo, para um sistema de transporte público coletivo ser viável precisa ter mais pessoas próximas das outras se deslocando pra usos mais próximos e por vias bem conectadas.
E como está Feira de Santana neste cenário?
1) Sobre densidade residencial, a prefeitura prioriza aqui justamente o oposto. Incentiva a dispersão da cidade, dando aval para construções de moradias cada vez mais distantes, mesmo com a existência de inúmeros vazios urbanos mais próximos do Centro. Vemos milhares de construções em locais como Papagaio, Jardim Brasil, Jaíba, com a promessa de moradia mais barata, mas que na verdade estrangula o orçamento das famílias com a dependência de transporte motorizado individual.
2) Sobre a localização dos usos, a moradia está cada vez mais distantes dos empregos e serviços. Ao contrário dos conjuntos habitacionais de Feira feitos de 1960 a 1990, com grandes diversidade de residências e serviços à distâncias caminháveis, os novos bairros priorizam condomínios 100% residenciais, com comércios acessíveis quase sempre por carro.
3) Sobre a conexão de vias, a prefeitura prioriza uma cidade com quadras extensas, ruas não ortogonais e desconexas.
Resultado?
Com todas estas dificuldades impostas, o sistema de transporte público coletivo não consegue sobreviver. Isso já foi provado em várias cidades dispersas como Los Angeles, Abu Dhabi, Atlanta, Orlando etc. Cidades ricas mas com transporte público péssimo e grandes congestionamentos.
Quanto mais longe os ônibus precisarem viajar para levar cada vez menos usuários, pior será o sistema de transporte público coletivo. E aqui em Feira ainda há o agravante da dependência do sistema pela integração espacial em terminais cada vez mais distantes dos destinos.
Só haverá mudança quando houver uma política séria de planejamento urbano para cidade, e não esta política unicamente voltada ao mercado e com descaso público.