“A feira é patrimônio histórico e cultural de Feira de Santana”. A afirmação da feirante Edneide Santos não é apenas uma frase de efeito. É a representação do sentimento de pessoas que defendem a manutenção da feira da rua Marechal Deodoro como fonte de trabalho e renda, mas também como preservação da origem da cidade. Na tarde da última quinta-feira (2), os feirantes se reuniram em uma audiência pública na Câmara Municipal, para discutir as possibilidades de requalificação do espaço e não a remoção da feira. “Queremos a Feira na Feira”, reivindicou a feirante, que também criticou a falta de diálogo por parte da prefeitura: “eles só impõe, dizendo que temos que limpar a rua; mas a gente não é lixo”.
A dificuldade de diálogo com o poder público, aliás, deu o tom das discussões na audiência pública promovida pela Comissão de Reparação, Direitos Humanos, Defesa do Consumidor e Proteção à Mulher, que envolveram feirantes, vereadores e especialistas das áreas de Economia, Urbanismo e Cultura. “É preciso construir o entendimento, a garantia do ordenamento do centro e, ao mesmo tempo, que as pessoas trabalhem, tenham o ganho de seu sustento”, disse o vereador Jhonatas Monteiro, presidente da comissão.
Defendendo soluções conjuntas a partir do diálogo e não pela imposição, Jhonatas conduziu a audiência e lamentou a ausência de representantes do Governo Municipal, que possibilitaria um passo significativo para esse entendimento. Posição semelhante à dos feirantes, que estão dispostos a resistirem a uma possível transferência para o Centro de Abastecimento ou para os bairros, dentro da proposta das feiras itinerantes, alternativas apresentadas pela prefeitura e que eles consideram “uma violência para os feirantes e para a cidade”, como afirmou Sônia Santos.
A viabilidade da requalificação da feira da Marechal foi destacada por Alan Pimenta, engenheiro civil e Mestre em Urbanismo, que apresentou uma proposta de espaço organizado e considerou a remoção “uma contradição econômica e social e uma grande farsa do poder público”. A professora especialista em Identidade e Cultura Larissa Penelu destacou o papel da feira livre para o desenvolvimento da cidade desde sua emancipação e notou que a maioria dos feirantes instalados na Marechal são “herdeiros” da antiga feira, uma prova de que o lugar da feira não é apenas tradição mas também faz parte da identidade feirense.
Já o economista Antônio Rosevaldo Ferreira pediu respeito ao nome da cidade, falou de sustentabilidade e disse que “são essas pessoas que construíram essa cidade e fazem o dinheiro circular”. Destacou, no entanto, que o município ignora as demandas da sociedade civil: “a gente vem aqui, aponta os erros da prefeitura e simplesmente somos ignorados”. O economista também cobrou empatia do poder público: “atrás de cada barraca existe uma vida, uma família que depende disso”.
A audiência pública contou ainda com a participação dos vereadores Galeguinho (PSB) e Petrônio Lima (Republicanos), vice-presidente e membro da comissão, respectivamente, Silvio Dias (PT), Pedro Américo (DEM), Luiz da Feira (PROS) e Professor Ivamberg (PT). A mesa foi composta pelos três integrantes da Comissão de Reparação, mais as feirantes Edneide Santos e Sônia Santos. Durante os debates, também se pronunciaram em defesa da permanência da feira na Marechal Giscleide Dias, Jardiel Rocha, Sheila Santos, Marcelo Souza e Kaio Freire (on line).
Assista a audiência na íntegra: