Uma nova manifestação dos camelôs hoje (21) praticamente paralisou as principais vias do centro da Feira de Santana no começo da tarde. Concentrados defronte à Prefeitura, os manifestantes cobravam diálogo com o Executivo para resolver o imbróglio envolvendo as taxas cobradas no Shopping Popular. Saíram decepcionados: a comissão criada não encontrou com quem conversar. Prefeito e secretários estavam ausentes, anunciou a própria comissão, para frustração dos trabalhadores.
– Não é surpresa. O prefeito não gosta de gente! – Reclamou alguém.
Houve tensão: após bate-boca e empurrões, a Guarda Municipal usou spray de pimenta para conter um dos manifestantes. A reação atiçou os ânimos, mas a turma do deixa-disso, majoritária, acalmou os mais inconformados. “Só usam spray de pimenta contra trabalhador!”, indignou-se uma mulher, exaltada.
As reclamações contra a omissão da Prefeitura no episódio foram gerais. Após a notícia de que não havia com quem dialogar, uma mulher reagiu: “Na hora de pedir voto ano passado, apareciam toda hora! Agora desaparecem!”. Houve apupos, vaias e alguns, mais exaltados, gesticulavam. Um negro forte propôs:
– Se a Prefeitura não quer negociar, a solução é a gente voltar para a Sales Barbosa! Pronto: a gente volta para a Sales Barbosa!
Quando saí, a concentração ainda não se dispersara. Mas a manifestação vai continuar amanhã, prometeram. O ato nitidamente afetou o movimento no comércio feirense à tarde. Além da Guarda Municipal, havia policiais militares, agentes de trânsito, inúmeras viaturas. Era possível caminhar tranquilo sobre o asfalto no trecho interditado da Getúlio Vargas junto ao estacionamento da Prefeitura.
Este impasse era previsível antes mesmo da relocação dos camelôs para o festejado Shopping Popular, que funciona junto ao depauperado Centro de Abastecimento. As taxas são elevadas e a clientela, escassa. O desdobramento inevitável desta combinação é a inadimplência, conforme se vê. Em textos anteriores – muito antes da relocação – já antecipávamos o problema.
A questão é que não dá para a Prefeitura, indefinidamente, fingir que o problema não existe. A manifestação de hoje é mais um sinal. Quais são as alternativas? É algo que já deveria estar sendo discutido. Alternativas sustentáveis, aliás, deveriam ter sido pensadas desde a fase de concepção da celebrada Parceria Público-Privada. Obviamente, não foi o que aconteceu e o resultado é o que se vê.
É impossível postergar indefinidamente a solução do problema, empurrá-lo com a barriga. Afinal, centenas de trabalhadores – pais e mães de família – estão sendo prejudicados, com dificuldades para garantir o próprio sustento. Isso num momento delicado, de pandemia, num país desgovernado.
Os próximos capítulos não vão demorar. Afinal, amanhã haverá nova manifestação.
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