Quantos atravessamentos perpassam a vida de uma mulher preta? Você já parou para refletir em torno desse questionamento? Se você não é uma mulher preta, provavelmente, sua resposta será negativa.
Vivemos em um país racista (isso não é novidade para ninguém) e este racismo, que é estrutural, coloca esse grupo de mulheres na base da pirâmide social que se reflete em várias opressões que nos atingem e que, muitas vezes, parecem “invisíveis” para muitos. Somos as maiores vítimas de todos os tipos de violência: física, psicológica, patrimonial, obstétrica; recebemos os salários mais baixos; engrossamos as filas dos desempregados aos milhares e só nos restam atividades informais ou a tentativa de empreender diante das portas fechadas no mercado de trabalho formal; as que menos casam e as que mais são abandonadas pelos maridos/companheiros para criarem os filhos sozinhas.
Racismo, machismo e pobreza gerada pelo capitalismo nos atingem em um sistema opressor que precisa ser conhecido, em suas mais diversas nuances, muitas vezes sutis, e combatido em um esforço coletivo do povo preto. Romper com toda essa lógica opressora individualmente, nunca será possível. É através da junção de forças e do compartilhamento das diversas vivências que podemos resistir. O aquilombamento deve ser a ferramenta de superação dos diversos obstáculos que nos são impostos por àqueles que estão a frente desse cenário que não nos oferece novas perspectivas de mudanças econômicas e sociais.
É diante dessa necessidade de resistência e de apoio mútuo em busca de fortalecimento para superar todos os problemas que nos são apresentados que o grupo ENCONTRO DAS PRETAS surge em 21 de julho de 2018 em Ney Bar. Composto por 38 mulheres pretas com uma diversidade de idades, níveis de formação e seguimentos religiosos.
Como funciona? A cada encontro, é realizado um sorteio para decidir onde irá acontecer o encontro do mês seguinte. Cada temática é escolhida pela anfitriã e a equipe intitulada “café com leite” entra em cena para auxiliá-la na organização do ambiente para receber as outras integrantes do grupo.
Diversos temas já foram ambientados como: festa junina, boteco, samba, baile micaretesco e carnavalesco, Black/White, neon, tardezinha, baile funk e consciência negra, este último foi realizado no dia 20 de novembro, dia que se comemora a consciência Negra no Brasil.
Nossos encontros adquirem uma importância ímpar a partir do momento que eleva a nossa autoestima e nos fornece o empoderamento necessário para combater o racismo e as diversas formas de preconceito e violência, além de nos proporcionar o estreitamento dos laços afetivos familiares, já que a maioria das mulheres negras que integra o grupo possuem laços de parentesco.
Somos avós, mães, filhas, netas, sobrinhas, primas e amigas. Esperamos que outras mulheres se sintam encorajadas a seguirem o nosso exemplo e se reúnam com seus pares para resistir diante das diversas opressões que nos adoecem física e psicologicamente diariamente.
O encontro das Pretas é de Feira de Santana e de Mulheres de Feira de Santana.