Pode não se confirmar, mas a boataria que tomou conta da política baiana indica que o ex-governador e atual senador Jaques Wagner (PT) não será mais candidato a governador, conforme se anunciava. Seu lugar será assumido pelo senador Otto Alencar (PSD). O arranjo, caso se concretize, permitirá que o governador Rui Costa (PT) se afaste da função em abril para se candidatar ao Senado. É o que noticia a imprensa soteropolitana há dias, em meio a um intenso disse-me-disse.
Se as previsões se confirmarem, encerra-se, nas próximas eleições, o ciclo de 16 anos consecutivos do PT no poder na Bahia. Mais ainda: com Rui Costa candidato ao Senado, a legenda não figurará nos dois principais postos do Executivo estadual (governador e vice). Será uma tremenda reviravolta política, inesperada até para os analistas mais céticos.
Afinal, desde sua fundação, o PT sempre disputou o governo baiano. Isso só não aconteceu em duas ocasiões: em 1986 e em 1994. Nas demais eleições, o partido lançou candidato próprio: Edval Passos (1982), José Sérgio Gabrielli (1990), Zezéu Ribeiro (1998), Jaques Wagner (2002, 2006 e 2010) e Rui Costa (2014 e 2018), os dois últimos eleitos e reeleitos para o cargo.
O pitoresco, no entanto, não se encerra aí. Principal adversário do chamado carlismo – o grupo político liderado pelo ex-governador Antonio Carlos Magalhães, falecido em 2007 – o PT, pelo que se cogita, marchará alinhado com o senador Otto Alencar, político com sólidas raízes no chamado carlismo e que, ironicamente, enfrentará um dos herdeiros políticos do ex-senador, ACM Neto, ex-prefeito de Salvador.
Noutras palavras, o arranjo construído pelos caciques do PT afastará a legenda da disputa do principal cargo político do estado e viabilizará o enfrentamento entre dois legatários do chamado carlismo, mesmo que o senador Otto Alencar esteja aliado com os petistas há muito tempo. Algo imprevisível até há pouco tempo.
A decisão – é bom ressaltar que, até aqui, nada está confirmado oficialmente – implicará também em impactos de médio prazo. Sem renovação em seus quadros, o petismo baiano vai envelhecendo, limitando-se a lançar os mesmos nomes a cada eleição. Fora do Executivo, essa renovação tende a se tornar ainda mais improvável. Sobretudo quando se abdica voluntariamente do poder.
Em suma, a reviravolta é tão surpreendente que ainda desperta dúvidas, ceticismo. Mas, confirmando-se ou não, é bom destacar que a hesitação e o titubeio mostram que a tríade no poder na Bahia – PT, PSD e PP – é menos monolítica do que já foi em eleições passadas. Parte das fissuras ficou visível a partir dessa reviravolta rocambolesca.
Isso não significa, obviamente, que a fatura está liquidada e que ACM Neto – líder nas pesquisas hoje – é o franco favorito. Pelo contrário: a disputa tende a ser acirrada e, no momento, imprevisível. Como o enredo da novela governista que veio à tona nos últimos dias…
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