A morte tem sido assunto recorrente no Brasil. Não, não foi apenas a pandemia da Covid-19 que trouxe o tema para o noticiário, para uma posição central na vida dos brasileiros. Antes – já em 2018, quando as eleições presidenciais aconteceram – a morte pautou a campanha eleitoral, forjou comportamentos, redefiniu a mentalidade de parcela da população brasileira. Desde então uma pulsão pela morte move parte do País, refletindo-se em múltiplas dimensões da existência coletiva. Não foi à toa que Jair Bolsonaro, o “mito”, galgou o posto de presidente da República. Ele personifica esse ideal de morte.
Para êxtase dos que pulsam sob a pulsão da morte, esta vem crescendo, os números confirmam. Às vezes a imprensa divulga notícias sobre óbitos – principalmente em função da Covid-19 – e constata seu crescimento no Brasil. Aqui na Feira de Santana a morte ganhou impulso também, conforme atestam informações disponilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, com base em levantamentos de cartórios de registro civil.
Em 2020 foram registrados exatos 4.392 óbitos na Feira de Santana, de acordo com o levantamento já mencionado. Como se sabe, boa parte dessas mortes refletiu o avanço da Covid-19, que teve impulso adicional com o sistemático boicote dos mangangões lá de Brasília às medidas de isolamento social e ao uso da máscara. Assim, a diferença em relação ao ano anterior, 2019, foi expressiva: 526 notificações a mais, já que naquele ano foram registrados 3.866 óbitos.
O salto impressiona mais quando se observa que, nos anos anteriores, – a série histórica está disponível no site da instituição – o número de óbitos sempre oscilou entre 3,4 mil (em 2014) e 3,6 mil (em 2018). O primeiro ano do período – 2008 – é o que registra menor quantidade de òbitos: exatos 2.937.
Infelizmente, informações mais detalhadas – sobretudo as que especificam as causas das mortes – não estão disponíveis no levantamento. Mas tudo indica que a Covid-19 foi, sim, a responsável pela escalada de mortes por aqui em 2020. Ela, alavancada pelo descaso dos governantes do Planalto Central com a doença. Mas isto, no Brasil de hoje, não configura problema para muita gente: ao contrário, não falta quem sinta prazer quase orgásmico com o morticínio.
É natural que o número de mortes cresça em decorrência do envelhecimento da população. Mas esse movimento tem uma tendência vegetativa, provavelmente sem grandes oscilações no curto prazo. A pandemia – e a criminosa omissão de muitas figuras – impulsionou a escalada. Imagino que, em 2021, os números também foram espantosos, mas estes ainda não estão disponíveis no site do IBGE.
Mas é bom falar de vida também, para não se contaminar com essa atmosfera do Tanatos. Ela abordaremos num próximo texto…
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