No texto anterior abordamos a questão da morte aqui na Feira de Santana em 2020. Em grande medida, o aumento foi um desdobramento da pandemia da Covid-19. Mas – apesar das densas energias da morte, altamente maléficas, que pairam no ar – é bom não se contaminar com o Tanatos: melhor pensar na vida, exaltar na vida. Que seja: no mesmo ano trágico de 2020, a vida seguiu seu fluxo e o número de crianças nascidas vivas aqui na Princesa do Sertão foi mais que o dobro do total de óbitos no mesmo período: 9.261, contra 4.392.
Os números, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, são coletados junto aos cartórios de registro civil. Note-se que esses 9,2 mil nascidos vivos contabilizam o lugar de registro dos bebês, desconsiderando o local de nascimento da mãe.
Debruçando-se sobre a série estatística, nota-se uma tendência que exige atenção. É que, em 2020, observou-se o número mais baixo da série desde 2007: naquele ano, foi contabilizado o nascimento de exatas 8.850 crianças. Nos anos seguintes registrou-se alta quase sempre contínua, à exceção de 2013, quando os 9,3 mil nascidos representaram soma inferior aos 9,7 mil do ano anterior.
A tendência de queda se manifestou a partir de 2018, depois do auge em 2017, ano anterior: naquela oportunidade, foram 10,2 mil, contra 10,1 mil já no ano seguinte, 2018; na sequência, em 2019, houve novo declínio: 9,8 mil. Por fim, conforme já mencionado, em 2020 o número de registros de nascidos vivos caiu para 9,2 mil. Porém, não se pode afirmar que, neste ano, a redução drástica se deveu à pandemia pois essas informações, por si sós, não permitem conclusões do gênero.
Mas é possível observar que o número de nascidos vivos, – e registrados, com base no critério informado – que começou a cair a partir de 2018, coincidiu com a crise econômica que se combinou à estagnação do Produto Interno Bruto, o PIB, e que, posteriormente, desaguou na avassaladora crise da pandemia.
É possível deduzir que os casais decidiram ratardar a chegada de bebês por conta das dificuldades impostas pelas crises? É possível. Mas isso depende de estudos, com método e detalhamento. Quando se considera, no entanto, o critério local de nascimento da mãe, a curva descreve trajetória bem semelhante, denotando convergência. Provavelmente não se trata de fenômeno aleatório, acidental. Mas deduções exigem mais análise, mais conhecimento.
A quantidade de crianças no Brasil vem caindo junto com as taxas de natalidade, há décadas. Apesar dos delírios malthusianos de alguns – os que creem no crescimento descontrolado da população – o País converge com padrões internacionais, limitando-se a cerca de 2,3 filhos por mulher, a taxa de reposição da população.
Para além da convergência com as tendências internacionais, porém, pode ser que as agudas e persistentes crises que afligem o País venham influindo na decisão dos casais sobre a geração de filhos…
- Bahia entre os primeiros da Série A após 23 anos - 09/12/2024
- Manifesto por mais decoração natalina - 25/11/2024
- A melindrosa tarefa de escrever - 19/11/2024