O Brasil concentra 12% de toda a água doce do planeta — o que equivale a 53% das reservas hídricas da América do Sul. Deste volume, 68,5% estão disponíveis na região Norte, enquanto as outras regiões do país têm parcela muito menor: para se ter uma ideia, o Nordeste concentra apenas 3,3% das reservas nacionais (BRASIL, 2019). São dados que evidenciam a má distribuição dos recursos hídricos como uma questão muito mais crítica do que a escassez. Destaca-se que essa distribuição de água no país ocorre de maneira inversamente proporcional às populações regionais.
A gestão hídrica no Brasil é preocupante, também, pelo alto índice de perdas de água. Essas perdas podem ser classificadas como reais, quando relacionadas às etapas prévias à chegada da água ao consumidor final (captação, tratamento, armazenamento e distribuição), ou como aparentes, quando relacionadas à água consumida sem autorização ou faturamento (fraudes, ligações clandestinas, falhas no cadastro comercial e erros na medição dos hidrômetros).
Segundo dados de 2016 do Ministério das Cidades, os desvios de água tratada no Brasil ultrapassam 38% e representam uma perda de mais de R$ 10 bilhões ao ano. O valor corresponde a 92% do investimento feito pelo setor de saneamento básico no mesmo ano em todo o país.As perdas, no entanto, não são exclusividade do Brasil. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, o país ocupa o 8º lugar no ranking de desvios de
água tratada (38,5% de perdas). O Uruguai é o 1º, com 49%, e a Dinamarca tem o percentual de perdas mais baixo, com 6,9%. No recorte estadual, a Bahia tem perdas de 38%, equiparando-se à média nacional. Em outros estados do Nordeste e também do Norte, as perdas são superiores à média brasileira.
Neste sentido, fica evidente a necessidade de desenvolver iniciativas para a contenção de perdas, como o estabelecimento de metas e indicadores para desenvolver planos de perdas de água e a aplicação, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, de experiências exitosas de outros operadores.
Na Bahia, a demanda de água está distribuída de forma semelhante à do Brasil, entre agricultura (59%), uso doméstico (22%) e uso industrial (19%) — o consumo é bem maior no campo do que nas cidades. No meio urbano, a principal demanda de água é do abastecimento doméstico, que vem aumentando consideravelmente em função do crescimento populacional. Já no campo, a utilização da água está distribuída entre a agricultura irrigada e o uso na dessedentação animal. Novos métodos de irrigação, no entanto, têm reduzido a demanda de água pela agricultura.
Nas grandes áreas industriais e da agroindústria moderna, a eventual contaminação da água subterrânea e a salinização do solo já são questões bem estabelecidas. Em regiões onde a evaporação supera a precipitação, a capacidade de armazenamento é mínima e a água dos poços artesianos é, frequentemente, salobra (Jury e Vaux; 2005; Vououlis, 2018).
Dentre os principais métodos de dessalinização da água, destacam-se a osmose reversa, a destilação multiestágios e a dessalinização térmica e por congelamento. Em comum, todas elas envolvem grande consumo de energia, o que encarece sua aplicação significativamente, e apresentam vantagens e desvantagens em relação ao tipo de água a ser tratada (Mocock et al, 2018). A tecnologia da osmose reversa (OR) tem sido utilizada em cerca de 60% das instalações de dessalinização em 150 países, sendo que, há mais de dez anos, é o meio utilizado para o abastecimento de água em Fernando de Noronha (ACCIONA. 2019;Revista “Em Discussão!”, 2014).
Na OR, são obtidos como produtos uma corrente de água potável e um resíduo rico em sais, bactérias e impurezas. Esse resíduo pode ser levado a um tanque de evaporação, evitando a degradação do solo ou, a depender de suas características físico-químicas, pode ser utilizado para diferentes finalidades, como a adição a tanques de criação
de tilápias, o uso para a alimentação do gado ou a chamada “agricultura biossalina” (MDR, 2019). Hoje, a dessalinização de água salobra por OR tem se configurado como a alternativa para o semiárido baiano.
*Trecho de um artigo acadêmico, com o mesmo título, publicado no site da Academia de Ciências da Bahia( clique aqui)e de autoria dos seguintes pesquisadores:
Gisele Olimpio da Rocha (UFBA) Heloysa Martins Carvalho Andrade (UFBA) Miriam de Fátima Carvalho (UFBA) Sandro Lemos Machado (UFBA) Vânia Palmeira Campos (UFBA) Pedro Afonso de Paula Pereira (coordenador)