Feira de Santana nasceu uma cidade comercial e assim permanece hoje, décadas depois de sua criação. Começando pelo comércio de animais, com preponderância ao gado bovino, hoje convivendo com as grandes franquias e lojas de departamentos, todas aqui instaladas. A geração de tributos deste setor, durante anos alimentou a fama de cidade capitalista onde as oportunidades de investimento se descortinavam perante empreendedores ávidos por lucros e riquezas. Um olhar rápido nos dados estatísticos do IBGE mostra a pujança desta cidade, que convive em harmonia tanto o setor formal quanto o informal. Assim, os pequenos produtores que saíam da zona rural e vendiam seus produtos, fizeram por muito tempo a fama de cidade comercial, e o dinheiro circulava gerando lucros.
Este era o cenário até o final dos anos 80, mas com a mudança da feira livre para o centro de abastecimento, a incapacidade de absorver todos feirantes, fez com que os não contemplados se deslocassem de volta ao centro da cidade, o que nos anos seguintes faria explodir a desorganização do espaço urbano nas suas vias principais. A solução encontrada foi novamente impor aos feirantes informais, a obrigatoriedade da ida ao centro de abastecimento, agora travestido de Shopping Popular, mas os que comercializam frutas e verduras não tiveram espaço e apenas comerciantes de roupas e eletrônicos foram ali ocupar, em condições precárias e inseridas em um projeto completo e irregular. A política dos governos municipais, sempre ligados a burguesia local, sempre tiveram um comportamento repressivo, mas convivendo com a necessidade votos, acabam historicamente por permitir a convivência, afinal de contas, não mais existiam os pequenos produtores a vender o excedente de sua produção familiar, mas uma classe de vendedores que compram de atacadistas e revendem tanto nas ruas do centro quanto nas feiras livres de bairro. Um olhar atento vai observar que a banana vendida na feira livre é a mesma que abastece os hortifrutis da cidade. O caju é de irrigação, o umbu sem sabor é resultado da economia de escala onde se produz em grandes quantidades a um custo infinitamente menor. A castanha produzida nos distritos de Matinha e São José é comprada de produtores familiares e vendida nas lojas do centro comercial por 10 vezes mais o valor de compra, enriquecendo os atravessadores.
O desemprego no setor formal da economia feirense, faz crescer a atividade informal e a pandemia acelerou uma atividade que veio para ficar e os planejadores urbanos precisam se debruçar sobre o fato econômico. Me refiro ao e-commerce, ou seja, o comercio eletrônico, que cresceu no setor de alimentos e avança sobre roupas e produtos eletrônicos. Cada vez mais as pessoas usam deste expediente, por exemplo, o custo de sair de casa para comprar um mouse que pifou durante uma digitação é muito maior que pagar para receber o produto em casa pagando pelo frete bem menos que o estacionamento no centro da cidade. Este tipo de consumidor tem crescido e há uma tendencia de que somente aumente nos próximos anos.
Empresas e marcas precisam se adaptar a esta mudança brusca, importante estar atento aos anseios dos consumidores que tem optado em comprar de lojas virtuais e o comércio local precisa entender este movimento e fazer a transição. Para que se tenha uma ideia, dados da EBIT/Nielsen, o comercio eletrônico vendeu no Brasil em 2013 28,8 bilhões de reais e em 2019 já vendia 81,9 bilhões de reais. A Pandemia escancarou a necessidade de não somente vender, mas reduzir os custos fixos que pressionavam os estabelecimentos, por exemplo o aluguel da loja que pesou bastante no fechamento do isolamento social. Passou a vigorar no espaço urbano a centralização de estoques em poucas unidades, pois na medida em que as lojas se transformam em meros showrooms, diminui a necessidade de vendedores, diminui os gastos com energia, custo com segurança entre outras despesas. Cada vez mais as pessoas se dão conta da importância de reduzir o espaço físico das lojas e recorrer a vendas pelo whatsapp e outros aplicativos de mensagens, enfim o lojista está aprendendo que não precisam abrir lojas físicas enormes para atrair o consumidor final, apenas precisa fazer bom uso dos canais digitais. Um bom exemplo disto é o comércio de peças de vestuário para consumidores de alto poder aquisitivo que desejam a exclusividade de peças e não se escusam em pagar mais caro. Vale salientar em Feira de Santana tem se fortalecido o sistema Phydigital, que seja significa que o cliente pode realizar uma compra online e buscar o produto na loja ou vice-versa. Os supermercados tem crescido bastante esta atividade e os consumidores se libertado das filas imensas para pagar e a chateação de buscar vaga para estacionamento.
Neste sentido, as lideranças empresariais de Feira de Santana, precisam urgentemente preparar e encontrar um ponto de equilíbrio que consiga conciliar os diferentes tipos de comércio pois um depende do outro, a loja digital é o futuro, mas precisa da loja física para existir. Se Feira de Santana não atentar para isto, seu protagonismo secular no comércio poderá correr riscos. A produção rural pode muito bem ser melhor vendida com o uso de plataformas digitais, muitas cidades já o fazem no Brasil e nosso paraíso com nome de Feira precisa continuar cheia de graça e infinita beleza.
foto:Ed Santos