150 dias e noites, 5 meses, 20 semanas, 20 domingos de sua ausência. Tento prolongar sua presença entre nós de diversas formas, repondo nossa colônia da Granado de Flor de Larangeira que eu sempre trazia de viagem e você gostava de usar de manhã, economizando no último frasco de azeite doce da caixa que você comprava, usava sem moderação e gostava de presentear, usando seu “Prestobarba” que ficou no banheiro e você reclamava da sociedade, com nosso cafezinho com chocolate depois do almoço e mais dezenas de coisinhas que me faz estar contigo. Tento adiar a verdade da perda de diversas formas, ainda uso a minha aliança de casada, nossa aliança linda vinda do Líbano com seu nome gravado, ainda não tive forças para fazer a lápide, porque tudo isso confirma sua partida. Chegará a hora desses gestos absolutos. Há muitos momentos em que o ar me falta e me pego puxando o ar bem fundo de forma brusca e estranha, como que para me lembrar de respirar.Tenho aprendido que o tempo do luto é muito relativo, há momentos em que perco a noção desses 5 meses, é uma eternidade para nós que o máximo que ficamos sem nos ver foi durante dez dias quando fui realizar meu sonho de conhecer Portugal com um pulinho em Paris, na verdade 8 dias, no primeiro me levou no aeroporto e no décimo foi me buscar com Miguel com então 2 anos segurando uma rosa. Só que essa eternidade de faltas, de nuncamazes, agora é fato. Nosso menino fez 14 domingo, conseguimos dar um dia lindo para ele, fazendo literalmente das tripas coração, ou melhor, com o coração em tripas, e com a ajuda de nossos anjos na terra. Todos que já experimentaram dessa dor dizem que o primeiro ano é o pior de todos porque é o “primeiro de tudo sem”, todas as datas festivas precisam ser enfrentadas e vencidas com essa lacuna dolorosa. Sigo minhas leituras e estou gostando desse livro que fala sobre honrar nossos amores que se foram. Dentre tantas coisas que se destacam nele, há a citação de um estudo que se chama Modelo Dual de Luto, que consiste na oscilação entre Contração e Expansão. “Os enlutados ora se contraem emocionalmente ao acessar a dor da perda, ora se expandem acessando o movimento de restauração da vida”. Esses polos fazem muito sentido para mim. Hoje, mesmo com a dor muito latente, tive que receber Manoel, seu encanador, e pela primeira vez em minha vida resolver tudo com ele. Choramos juntos lembrando de você e esses homem simples me disse coisas lindas sobre sua bondade e sobre aceitação da morte natural. E assim a vida segue com suas urgências de renovo, mesmo quando a dor lateja….E como quero seguir honrando esse nossa história de amor, antes que a coragem passasse fiz a tatuagem que desejava, com o nome de Miguel, as asas de anjinho de nossa menina e um cedro que é você. Depois conto detalhes da tatoo porque tem muita resenha…
Alana Freitas é professora universitária e escritora. O texto acima foi extraído da página do Facebook
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