Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva.
Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou atenção, naquele dia, foram quatro placas.
Três delas solenes, bem antigas. Uma, sem data, encimava outras duas com frase sisuda: “Mercado Municipal restaurado e transformado em Mercado de Arte Popular no Gov. Colbert M. Da Silva”. Não há data, mas sei que foi em 1980, depois que o entreposto ficou sem função por conta da transferência da feira-livre, em 1977, para o Centro de Abastecimento.
As placas posteriores já trazem aquela padronização que se tornou comum desde então, com nomes dos governantes e datas determinadas. É o caso da que registra: “Mercado de Arte Popular reinaugurado após reforma geral”. Foi já no segundo mandato do prefeito Colbert Martins, em 24 de março de 1990. O intervalo entre uma reforma e outra, portanto, se estendeu por 10 anos.
Mais recente é a placa que batiza o MAP como “Mercado de Arte Dival Pitombo”. Abaixo, lê-se uma breve justificativa: “Grande mecenas das artes e das letras cuja luz sempre brilhará como incentivo à cultura”. A homenagem é de dezembro de 2004 e foi proposta pelo ex-vereador Antônio Carlos Coelho, por meio de projeto aprovado em 2000.
Por fim, há uma placa diferente das demais, num estilo mais moderno, que marcou a mais recente reinauguração, em 29 de dezembro de 2015, após reforma. Vale lembrar que, naquele ano, o MAP completou seu centésimo aniversário.
Percorri os corredores, mas não consegui localizar outras placas. Indago se, na inauguração, há mais de um século, houve algum marco, alguma referência. Em 1998 aconteceu nova reforma, – acompanhei a inauguração, como repórter, no fim daquele ano – mas não vi nenhuma placa. Estarão nalgum lugar mais discreto, foram removidas, se perderam? O que houve?
Não sei. O fato é que as placas, meio esquecidas, ajudam a contar parte da História de prédios e equipamentos públicos. Entediado na chuvosa manhã de inverno – o inverno ainda não acabou – fiz uma longa viagem, percorrendo décadas, apenas lendo nomes e datas em quatro singelas placas. Embora saiba que a História do MAP vai muito além das placas que o adornam…
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