Tenho visto com frequência, no noticiário, a informação de que a vacinação contra a poliomielite – a paralisia infantil – está bem abaixo do patamar desejável no País inteiro. As campanhas vem sendo prorrogadas mas, até aqui, os pais não compareceram como deveriam aos postos de vacinação com suas crianças. Há, até, o risco de a doença reaparecer no Brasil. O alerta foi feito pela Organização Pan-Americana de Saúde, a OPAS. Vê-se que o negacionismo e a irresponsável postura antivacina não produziram efeitos nefastos só em relação à Covid-19.
Experimentei dolorosa vivência com a paralisia infantil. Um dos meus irmãos – o único homem – faleceu em decorrência dessa doença, aos 18 anos, no começo dos anos 1980. À medida em que sua saúde se deteriorava, o que o incapacitou, privando-o das coisas mais simples, cresciam o sofrimento dele – sofrimento enorme, para gente grande – e o da própria família. Simplesmente não existem palavras suficientes para descrever a dor que vivemos.
Quando meu irmão contraiu a doença não havia acesso amplo à vacina, nem campanhas de vacinação. Atravessava-se a abominável ditadura militar. Também não havia apoio ou suporte na rede pública de saúde, nem benefício social para os doentes. Quem não tinha recursos, enfrentava o drama com estoica resignação. Era o que restava. Revolta? Inconformismo? O amor falava mais alto no enfrentamento àquele calvário.
Assim, confesso o espanto com a relutância de quem – por ignorância ou outra razão qualquer – priva o filho da vacina e do direito de não se expor a uma doença horrorosa, cujos efeitos são trágicos. Imagino que não há dor maior do que ver um familiar sem andar, preso a uma cadeira de rodas ou – pior ainda – a uma cama. Sobretudo se isso decorrer de negligência, negacionismo, ignorância.
Torço para que, nos próximos anos, a energia da morte se dissipe, dispersando também a contestação à ciência, às vacinas. Torço ainda para que, em Brasília, haja governo, e as campanhas de vacinação que tornaram o Brasil referência mundial sejam retomadas. Esse momento, infelizmente, ainda não chegou. Mas é sempre possível fazer um chamamento individual à lucidez, à razão.
Se você tem filhos, não vacile! Vacine!
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