Sempre quis conhecer Itabuna. Coisa dos tempos de menino. No começo da adolescência li “Terras do Sem-Fim”, de Jorge Amado. Encantei-me com as histórias de valentia, de mortes, de ambição, que tiveram como palco o então distrito de Ferradas – pertencente a Ilhéus – e que, anos depois, emancipou-se, tornando-se Itabuna. Até os anos 1980, no noticiário, abundavam relatos sobre a economia local, pujante em função de um fruto que encarna a identidade daquela região, uma das mais prósperas da Bahia: o cacau.
As andanças da vida permitiram passar algumas vezes pela cidade. Nesse ir e vir as paradas eram curtas, limitando-se a algumas poucas horas. Até firmara uma relação com Ilhéus, – com suas praias e morros paradisíacos – mas Itabuna era apenas paisagem entrevista, destino que aguardava intimidade maior.
Numa viagem recente, o pernoite, enfim, foi em Itabuna. Permanência de apenas um final de semana, mas a experiência permitiu que aflorassem algumas sensações, resgatassem-se algumas referências antigas. A avenida Aziz Maron, – nome imponente – às margens do rio Cachoeira, deixou impressões positivas. Há vegetação – amostras da soberba Mata Atlântica – e infraestrutura: ciclovias, quadras e equipamentos esportivos que tornam a cidade aprazível.
Os atrativos mobilizam o grapiúna – é como se designa os habitantes da região cacaueira – que ocupa os espaços e usa os equipamentos, emprestando vida à região central da cidade, mesmo nos finais de semana. Em volta, notam-se edifícios residenciais, o que desperta a sensação de compartilhamento dos espaços urbanos, com múltiplos usos. É um avanço em relação a muitas cidades, inclusive a Feira de Santana.
Aquelas impressões catadas na pressa dos viajantes firmaram uma sensação, talvez até uma convicção. A presença de equipamentos de uso coletivo – pistas, equipamentos de ginástica, quadras poliesportivas – atraem parte da população para atividades desportivas, mas parece que o movimento vai além. Não é só o uso utilitário. Firmou-se, ao que parece, uma cultura de acesso aos espaços públicos que reforça a simbiose entre o comercial e o residencial, sempre salutar.
Observando aquela realidade, não há como não comparar com a Feira de Santana. Há quem enxergue incompatibilidade em comparações entre lugares distantes e culturas distintas. Bobagem: experiências urbanas existosas costumam ser disseminadas, compartilhadas entre gestores de cidades antenadas com a modernidade, com a inovação na gestão urbana.
Voltando à Feira de Santana, é fácil constatar a pobreza no uso de espaços coletivos, a limitada disponbilidade de equipamentos, a ausência de incentivo à humanização da cidade. Nisso aí Itabuna está bem à frente. O debate é complexo e, enfim, é preciso arrematar o texto, que já vai se estendendo nesta semana em que as pessoas estão mais voltadas para as eleições.
Se bem que essa discussão, a propósito, envolve o processo eleitoral, mas eleições municipais só acontecem daqui a dois anos. Incorporar o tema à agenda pública, portanto, só em 2024. Isso se acontecer…
foto de Jairo Cedraz:Feira de Santana
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