No começo da Copa fiz um texto sobre a presença de hermanos – brasileiros que torcem pela seleção argentina – aqui na Feira de Santana. A quantidade impressiona. Um futebol tedioso, burocrático, previsível – em que pese a qualidade individual de alguns jogadores – afastou a Seleção Brasileira do Mundial logo nas quartas-de-final. Assim, muitos adotaram Marrocos – que foi eliminada pela França nas semifinais – e, agora, restam apenas Argentina e França na grande final, que acontece no domingo. Imagino que a torcida pela seleção alvi-celeste deve crescer, embora não faltem brasileiros briosos que gritam: “Argentina, jamais!”.
São coisas do futebol. É o que alimenta a paixão, o fascínio, a emoção. Mas o fato é que, há 20 anos, os brasileiros não brilham na principal competição do futebol mundial. Resta, portanto, ficar escolhendo equipes alternativas para manter a paixão acesa. Por isso se veem camisetas da Argentina, da França, da Croácia, até da Itália que nem pra Copa foi. As da Alemanha são mais raras, porque o 7 a 1 deixou traumas profundos.
Logo após a eliminação brasileira as camisetas amarelas desapareceram. Sábia decisão: segunda-feira (12) à noite, em Brasília, foi o uniforme canarinho que vestiu parte dos baderneiros responsáveis pelos atos terroristas que assustaram o País. Arruaça tocada pelos fanatizados acólitos de Jair Bolsonaro, o “mito”, que partiram para o terror.
A coisa está ficando séria. Primeiro, acamparam defronte a quarteis, reverenciaram pneus, acenaram para extra-terrestres, vibraram com a chegada de carregamentos de fuzis imaginários, penduraram-se em caminhões. Agora, no Planalto Central, resolveram apelar para a violência. Está ficando perigosa essa situação de realidade paralela, de alienação movida pelo ódio.
É sábia a decisão do feirense de abandonar as camisetas após a eliminação da Seleção Brasileira. É um hábito antigo, aliás, adotado após cada eliminação. Mas, com os fanáticos nas ruas, ficou constrangedor, – vergonhoso até – ser associado a esse delírio.
Sim, é melhor trajar a camiseta argentina. Eles estão em situação melhor no futebol e, sobretudo, na política. Messi e companhia mostram talento e, sobretudo, muita garra. E, na política, os hermanos não convivem com golpistas aloprados imersos em sua bizarra realidade paralela.
Mais alguns dias e – talvez – o País consiga retomar o rumo da normalidade política. Pode não dar certo, a situação é muito tensa, instável. Mas é torcer para que prevaleça o desejo do brasileiro médio de viver em paz, trabalhando, estudando, – enfim, vivendo – e que os golpistas se tornem apenas aquilo que, de fato, são: casos de polícia e de Justiça.
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