Não sei bem por quê, mas acabei guardando o ingresso do último jogo que assisti do Fluminense de Feira. Foi no já distante 1º de março de 2020. Era tarde de domingo. Paguei R$ 10 pelo bilhete – com a promoção, todo mundo pagava meia – cujo número cravava 003440. Era verão, fazia calor, o sol castigava a animada torcida concentrada na Geral e esquentava o concreto áspero das arquibancadas. Em campo, o Touro do Sertão encarava a Juazeirense.
Contrariando a lógica da natureza, o Cancão de Fogo – é assim que a equipe da cidade que fica às margens do rio São Francisco é conhecida – não teve muito trabalho para atropelar o Touro do Sertão: 4 a 2, com uma bela exibição. Aquilo parecia um prenúncio da derrocada do tricolor feirense, que quase foi rebaixado já naquele ano.
Em 2021, não deu e o Touro voltou à Segunda Divisão. Na primeira temporada no limbo da Série B a equipe sequer animou a torcida com a possibilidade de retorno, ficando engasgada no pelotão intermediário da tabela. O time, aliás, era sofrível.
O Touro do Sertão, a propósito, sumiu do noticiário nos últimos meses. Tudo indica que só deve ser lembrado às vésperas da Série B. Vai subir? Não vejo os torcedores muito animados. Caso não suba, o Fluminense engatará em 2024 sua mais longa sequência na Segunda Divisão do Campeonato Baiano: três anos consecutivos, no mínimo. Até 1998 a equipe nunca caíra. Desde então, já são três rebaixamentos e pelo menos cinco temporadas no limbo do futebol baiano.
Curiosamente, há 20 anos, o time vivia seus melhores momentos no século XXI. Havia sido vice-campeão baiano em 2002 e, no ano seguinte, conseguiu sua melhor colocação na Copa do Nordeste: foi vice de novo, enfrentando o Vitória mais uma vez.
Nas fases iniciais, eliminou o ABC de Natal e o Ceará, em jornadas eletrizantes no Joia da Princesa. Acompanhei essas partidas da arquibancada, compartilhando o entusiasmo dos torcedores, sob a chuva, degustando cravinho. Obina – aquele mesmo que se destacou no Vitória, no Palmeiras e no Flamengo – estava em campo pelo Touro do Sertão.
No primeiro jogo da final – sob chuva numa noite de sábado – o placar ficou em 1 a 1. O gol do Fluminense levou a torcida ao delírio, uma meia-bicicleta do atacante Jean Michel. Na partida de volta, em Salvador, 0 a 0. O Vitória foi campeão, portanto, sem conseguir vencer o tricolor feirense, favorecido pelo retrospecto para ficar com a vantagem do empate.
Naquele ano, o imbróglio envolvendo a CBF, o Bahia e os três principais times de Pernambuco – Sport, Santa Cruz e Náutico – tirou essas equipes da disputa. Não importa. O Touro foi vice, desbancando grandes do Ceará e do Rio Grande do Norte.
Vinte anos depois o Fluminense vive um dos piores momentos de sua História, fora do circuito principal do futebol baiano. Vai conseguir sair dessa daqui a alguns meses? Seria ótimo. Mas ninguém sabe. Triste Feira de Santana que, aos poucos, vai perdendo o seu Touro do Sertão…
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