(Apesar de você, de Chico Buarque)
As imagens de uma dupla de assaltantes tomando o celular de uma menina de quatro anos que voltava da escola, em companhia da mãe, na manhã da quinta-feira passada, dia 9, na Avenida Leão, no bairro do IAPI, em Salvador, dão uma clara dimensão da real situação da segurança pública na capital baiana – e, de resto, em todo o Estado, onde segue crescente o avanço da criminalidade e multiplicam-se os casos de violência.
Como não podia deixar de ser, as imagens desse caso emblemático, captadas por câmeras de segurança, foram mostradas pelas emissoras de televisão e sites de notícias, com repercussão nacional. Nelas, vemos os dois bandidos chegarem em uma moto. Um deles desce, faz o gesto de quem exibe uma arma na cintura, e toma o celular da criança. Em seguida, fogem, na maior tranquilidade.
Convenhamos: quando bandidos passam a assaltar crianças de quatro anos é porque chegamos ao fundo do poço. Qual o próximo passo da bandidagem? Assaltar bebês nas maternidades? Não duvide, caro leitor, pois há vários registros de assaltos a clínicas em Salvador.
Enfim, a bandidagem avança, a criminalidade cresce e o cidadão anda cada vez mais amedrontado, temeroso, com receio do que a qualquer momento pode acontecer a ele ou a seus filhos, mesmos os pequeninos. É preocupante a situação da segurança pública na Bahia. E agrava-se cada dia mais.
Nesta segunda-feira, 13, porém, o governador Jerônimo Rodrigues decidiu tomar medidas duras. Não contra a criminalidade, mas contra quem faz críticas à segurança pública da Bahia. Disse, com todas as letras, que aqueles que criticam o setor o fazem por má-fé, pois a situação não é tão ruim como retratado pela imprensa. E anunciou ter orientado sua Secretaria de Comunicação Social a entrar em uma disputa com a imprensa no que diz respeito ao noticiário da área de segurança. “Nós não podemos perder essa disputa”, disse.
Tal qual Dario III, rei da Pérsia, que no ano 331 a.C. mandou matar o oficial que lhe trouxera a notícia de que seu exército fora derrotado por Alexandre da Macedônia, o governador da Bahia acha que o mensageiro é o culpado das más notícias.
Santa Ingenuidade, Batman! Jerônimo acredita que os roubos, tiroteios, assaltos e homicídios que se multiplicam na Bahia deixarão de acontecer se a imprensa, como é seu desejo, deixar de noticiá-los. Ou é simplesmente a incapacidade de reconhecer que a crítica é um direito da cidadania, cuja prática constante só fortalece a vida democrática?
Só para recordar: durante a campanha eleitoral, a cada frase dita, o candidato Jerônimo pronunciava o nome de Lula. Agora governador, deveria prestar atenção no que diz o líder de seu partido.
No dia 22 de dezembro passado, por exemplo, ao agradecer o trabalho da equipe de transição, Lula disse:
– Nós não precisamos de puxa-saco ou tapinha nas costas. O governo tem que ser cobrado todo santo dia, para que possamos aprimorar nossa capacidade de trabalho. Cobrem, cobrem e cobrem para que a gente faça, faça e faça.
É isso, professor. Siga o líder. Passar o pano não vai devolver os objetos tomados pelos ladrões ou a vida dos que foram assassinados pelos criminosos.
*José Carlos Teixeira é jornalista, graduado em comunicação social pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública pela Universidade Católica do Salvador.