Sob os raios do sol sertanejo, nas margens do rio São Francisco, operários cortam chapas de ferro, alinham e soldam as peças. A cada dia de trabalho dão forma a uma balsa.
Dentro de mais dois meses e um custo final de cerca de R$ 250 mil, o novo equipamento vai se somar às outras seis usadas neste tipo especial de transporte entre as barrancas do Velho Chico.
No que mais parece um estaleiro a céu aberto, constroem o equipamento que será usado na travessia de carros, caminhões e pessoas, à altura do povoado de Barra do Tarrachil (BA) e Belém do São Francisco (PE).
Este tipo de travessia é feita há muitas décadas – antes usava balsas de madeira. A nova unidade está sendo montada ao lado da Balsa Nossa Senhora de Fátima, construída há cerca de 70 anos, a primeira de ferro usada no serviço.
Há cerca de 30 anos, a balsa foi comprada pelo município. Há pelo menos duas décadas foi retirada do Velho Chico para passar por manutenção. Desde então a ferrugem se espalhou por toda a embarcação.
O serviço é vistoriado pela Marinha, que acompanha a evolução da construção. Um engenheiro naval, de Recife, da as coordenadas, mesmo que a distância, que determina as dimensões.
A balsa será uma das maiores das operações. Pesa mais de 20 toneladas e terá capacidade para transportar até 80 toneladas, terá 20 metros de comprimento e outros sete de largura. O ar do seu interior, cruzado de cantoneiras, a mantém flutuando em segurança.
Um motor de 150 cavalos, semelhante aos usados em ônibus, empurra a embarcação. A parte mais cara da engrenagem para locomovê-la é o reverso, a marcha da balsam, que é usada par dar ré ou empurra-la para a frente. Coisa de R$ 12 mil.
Os operários trabalham sob o olhar atento de Aldemar Filho, cujo pai, Aldemar Duarte, foi um dos pioneiros no setor. O experiente construtor, disse que cinco das seis balsas em atividade foram construídas por ele.
Para ele, o prazer de construir, ver a balsa em atividade, é bem maior do que calcular o tempo de retorno financeiro. “Sei que não viverei o suficiente para reaver o dinheiro investido. Ficará para os filhos”.
Os tempos de ouro para o setor antecederam a construção da ponte sobre o São Francisco, à altura dos povoados do Ibó, baiano e pernambucano, em Abaré e Cabrobó, na BR 116.
Segundo ele, antes, caminhões usavam as balsas para encurtar distâncias. Hoje, mudaram de rota. “A gente atende as moradores dos municípios da região, como Rodelas, Macururé e Chorrochó”. Cobram R$ 40 para atravessar um automóvel.
Dentro de três meses ou pouco mais, a balsa, que ainda não tem nome definido, e depois de ser liberada pela Antaq, a agência que regula o setor, começa a singrar a aquavia de cerca de um quilômetro, que se tornou profunda pelo represamento da barragem de Itaparica.
Batista Cruz é jornalista