O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou semana passada uma nova fornada de informações sobre o Censo 2022. Nela constata-se, por exemplo, que o número de mulheres é superior ao de homens na maioria dos estados e em muitos municípios brasileiros. A Feira de Santana, obviamente, replica a tendência nacional.
No Brasil, o número de mulheres é inferior ao de homens até a faixa etária dos 20 aos 24 anos. Na faixa seguinte – 25 a 29 anos – as mulheres tornam-se maioria e não perdem essa condição até as idades mais avançadas. Estudiosos atribuem essa “virada” às mortes violentas de homens jovens, sobretudo na condição de vítimas de assassinatos e acidentes.
Pois, aqui na Feira de Santana, – notabilizada pelo elevado percentual de homicídios, um dos maiores da América Latina – essa “virada” acontece mais cedo, duas faixas etárias antes, entre os 15 e os 19 anos. Vá lá que talvez haja algum impacto emigratório, mas provavelmente a diferença se deve à matança que alveja sobretudo os homens jovens, pobres, pretos e pardos.
É bom ir logo aos números. Na faixa dos 10 aos 14 anos eles ainda são, por pouco, maioria na Feira de Santana: 21.882 a 21.765. Na faixa etária seguinte – aquela dos 15 aos 19 anos – as mulheres já são discreta maioria: 21.888 a 21.841. A diferença se alarga – muito – na faixa dos 20 aos 24 anos, quando as mulheres são 25.894 e os homens 23.896. Uma diferença de quase duas mil pessoas.
Note-se que, no Brasil, nesta faixa dos 20 aos 24 anos, há 100,8 homens para cada grupo de 100 mulheres. Aqui na Feira de Santana, todavia, a proporção corresponde a 100 mulheres para cada grupo de 92,28 homens. A situação pode ser considerada alarmante, mesmo com algum impacto da migração nessa proporção.
Nas faixas posteriores os números são os seguintes: 26.021 a 22.861 entre 25 e 29 anos; 25.998 a 22.447 no intervalo dos 30 aos 34 anos; por fim, 29.217 a 24.970 entre 35 e 39 anos. Nem é preciso ser expert em demografia para levantar uma hipótese bem óbvia sobre o cenário local: acidentes e homicídios – sobretudo esses últimos – são determinantes para a diferença contra os homens.
Dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública indicam que 91,4% das vítimas de assassinato no País são homens. Morrem em desavenças do submundo, em operações policiais e, em menor número, em entreveros particulares, quando se tem que provar que se é “homem com H”.
Os acidentes também levam muitos homens para o cemitério, pois estes costumam ser muito mais imprudentes no trânsito. Atrás do volante também tem que se mostrar – a todo instante – que se é “homem com H”. É esse caldo que produz os números que o IBGE trouxe de maneira contundente no Censo 2022.
Talvez haja, nestes números, algum impacto migratório, mas este perdeu fôlego nas últimas décadas e, provavelmente, não explica integralmente a diferença. Pelo contrário: a Feira de Santana notabiliza-se como polo atrativo de mão-de-obra, absorvendo migrantes residentes nas cercanias. O saldo líquido entre quem chega e quem sai, portanto, deve ser positivo.
Conforme já foi mencionado, há, todos os dias, o noticiário sobre a violência na Feira de Santana, que reforça a percepção sobre a redução da população masculina jovem. A cultura da matança – a assepsia social tão festejada por muitos – reflete-se, de maneira irrefutável, nos números do IBGE.
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