Depois de cerca um mês de calor tórrido, o inevitável aconteceu: a escassez de árvores na Feira de Santana virou tema de debate. Não é para menos. Por aqui, as árvores são raras e boa parte delas não oferece sombra. Isso quando não são trucidadas só para retardar as próximas podas, embora chamar o que se vê por aí de poda seja gentil demais. Restam, sempre, só os galhos nus, projetando-se sob o céu azul.
Muita gente prefere assim. É quem tem aversão ao verde e curte mesmo o asfalto preto, o concreto cinza e o vidro azulado dessas construções modernosas. Devem imaginar que planta, árvore, é coisa de mato, de roça. A receita é perfeita para o surgimento daquilo que os ambientalistas classificam como “ilhas de calor”.
Mas isso não se resume ao centro da cidade ou aos bairros onde reside a elite feirense. A aversão à natureza se dissemina pela cidade e, talvez, seja ainda mais arraigada nas periferias. Há ruas longas, estreitas, intermináveis, que não ostentam, sequer, um mísero, um despretensioso fícus. No começo das tardes essas ruas ardem, ondas de calor lembrando labaredas.
É necessário reconhecer que, em algumas regiões da cidade, propriedades particulares preservam árvores. Mas isso onde residem privilegiados com quintais amplos, espaçosos. Na era dos condomínios e dos apartamentos, não restam muitas opções. Então a cidade ferve e a insolação espreita.
Dureza é ver que, sequer, existem parques pela cidade. O que construíram às margens da Feira-Serrinha, ali nas Baraúnas, é muito modesto, embora a iniciativa seja elogiável. Outros são necessários, mas onde seriam construídos? Eis uma questão que deveria ocupar quem pretende chegar ao Paço Municipal.
É bom lembrar que nem é dezembro ainda. E que temperaturas mais elevadas tendem a se tornar o “novo normal” a partir daqui, só para resgatar uma expressão largamente usada na pandemia. Não se trata, portanto, de um fenômeno passageiro, mas de mudanças duradouras e, provavelmente, irreversíveis.
Resta saber que soluções virão. Se virão e para quem virão.
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