O centro da Feira de Santana é feio à noite. Mais que isso: é melancólico, deserto, silencioso. Enfim, deprimente. Completamente vazias, as ruas só encontram ânimo nos letreiros luminosos das lojas. Mas é um ânimo estéril, porque quase não há passantes. Assim como nas regiões centrais de boa parte das maiores cidades brasileiras, não mora gente no centro feirense. Só há vida, portanto, até o poente.
Nem mesmo bares abertos se veem pelo centro da cidade à noite. Um ou outro resiste nas cercanias da Praça de Alimentação, na Praça da Matriz, meio vazio. Afinal, logo cedo, no começo da noite, quem peleja pelo centro feirense vai embora, espremendo-se no precário transporte coletivo.
Nas grandes metrópoles há trabalhador que costuma retardar-se, improvisando um happy hour enquanto aguarda condução menos cheia. Por aqui, não: há o impulso de ir embora, o lusco-fusco, o poente esbraseado do verão tange todo mundo das cercanias do centro comercial. Legado cultural da cidade provinciana, talvez.
Antes da pandemia, havia mais jovens aproveitando a pista de skate na Praça de Alimentação, sobretudo às sextas e sábados. Mas até esse hábito mudou. Nos quisques são mais comuns alguns biriteiros mordendo sanduíches para mitigar a fome. Assediando-os, os pedintes de sempre ou os esporádicos ambulantes com seus produtos made in China.
À medida que a noite avança, restam só os retardatários, a turma que não abdica da saideira. Os boêmios, a turma que aprecia a noite, migrou há tempos para regiões mais badaladas como a rua São Domingos – que já experimenta certo declínio – ou a avenida Fraga Maia, coqueluche do momento. Há sempre quem lamente a decadência do centro feirense, agitado três ou quatro décadas atrás.
O fato é que o centro da Feira de Santana – deserto, silencioso, desabitado – espera por dias melhores. Estes virão? Indagam os saudosistas, com uma ponta de ansiedade. É bom lembrar que a dinâmica urbana – atrelada aos movimentos do mercado imobiliário – costumam ser pendulares. Mais à frente, tudo indica, virá por aí uma maré reversa.
Mas, por enquanto, o centro feirense é triste é desalentador, mesmo nas potencialmente mágicas noites de sábado.
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Cômico se não fosse trágico. Eu frequentava a pista de skate a 10/11 atrás, mas dias maus vieram para nossa linda feira de Santana. Sair a noite não é mais tão viável assim quando diz respeito a sua vida e segurança pessoal. Mas é muito triste saber e ver o que acontece com o centro de feira de Santana. Quando eu comecei a ler o texto me deu uma tristeza profunda pois é pura verdade e não temos ideia se isso vai melhorar a curto ou longo prazo e se tem uma saída favorável para isso, eu espero que sim. Abraços e até mais.
Onde se planta tudo dá, culturalmente aqui não se planta nada, só se destrói. Como andar numa cidade onde hoje respira a violência urbana e central. Existe a saída a partir de deixarem e proteger artistas que deveriam ocupar o centro da cidade a partir das 18 horas com suas intervenções, fazer como Salvador, todo dia tem festa e gera trabalho e renda. Engraçado que esses governantes viajam por outras plagas mas não aplaudem a sua cidade só conspiram a perpetuação do lucro e do poder.