O ônibus da extinta empresa Autosel (não sei se a grafia era essa!) quebrou bem no sopé da ladeira do Nagé. O motor estremeceu, emitiu um ronco rouco e parou. Os passageiros se entreolharam na tarde nublada, desanimados. O motorista saltou do seu assento com um pulo ágil e abriu a tampa do motor.
– Vamos andando mesmo! – Sugeri, do alto dos meus oito anos.
– Tem que subir a ladeira! Quer ir andando mesmo? – Indagou meu pai, também impaciente com o ônibus parado.
– Vamos! – Reforcei, resoluto, feito adulto precoce. Íamos à Sales Barbosa, à Marechal.
A ladeira era mais silenciosa e menos comercial. O trânsito era nos dois sentidos, veículos subiam e desciam, no contido vaivém da época. Inclinei o corpo feito tabaréu e começamos a subir. Foi quando o motor do ônibus, num espasmo ruidoso, começou a funcionar.
– ÊÊÊÊÊÊ !!! – celebraram os passageiros. Alguns estavam na calçada, outros continuavam dentro do veículo.
Hesitamos por um instante. Mas o motor parou de novo.
– AAAAAAAhhhhhhh !!! – Lamentaram os passageiros.
Então seguimos. Que eu lembre, foi a primeira vez que subi a ladeira do Nagé andando. Isso nos idos de 1983, por aí. Naquela época a via era residencial, de comércio havia só uma antiga venda – com balcão de madeira e prateleiras repletas de produtos – numa esquina bem no sopé. Mais à frente, uma lanchonete que segue lanchonete até hoje.
As antigas residências eram amplas, fachadas sisudas, condizentes com a cidade comercial em expansão. Lembro também de pensões e pensionatos, que se irradiavam desde a Froes da Motta. Ao longo dos anos, fui acompanhando as lentas transformações.
Surgiram pequenos comércios, um ou outro escritório ou clínica. Aos poucos, os antigos moradores foram se mudando ou morrendo, as residências demolidas, dando lugar ao comércio, aos serviços automotivos. Oficinas, lojas de autopeças, lava-jato e borracharias foram surgindo, numa transição que ainda não se completou.
Assim, a Ladeira do Nagé passou a orbitar em torno do intenso comércio de autopeças da Rua de Aurora e do Minadouro. É atividade ainda em expansão, vai avançando até pela Voluntários da Pátria, em direção ao Sobradinho.
Daquele Nagé que galguei com pernas curtas na infância, restam só as lembranças, que ressurgem toda vez que passo por lá.
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