– A feirinha está devagar hoje. É o Carnaval…
O comentário – quase um bocejo – foi lançando por uma feirante ali na feirinha do Sobradinho neste domingo de Carnaval. Havia, de fato, pouca gente. Era possível circular com liberdade entre as barracas, pisando o asfalto umedecido pelas chuvas.
Havia, também, escassez de produtos: umas poucas pencas de banana numa barraca, hortaliças minguadas noutra, tomates, batatas e cebolas sem aquela profusão habitual. Enfadados, os feirantes pareciam contar os minutos para encerrar a jornada. No galpão de carnes, linguiça, fígado bovino, refrigeradores vazios e a mesma pasmaceira.
Naquele trecho agitado que abriga os boxes que vendem comida e bebida havia mais movimento, mas, mesmo assim, bem abaixo da frequência habitual. Sob o céu cinzento e o vento úmido a cerveja empolgava pouco. Espalhada pelas mesas coloridas, a clientela mastigava as carnes que as churrasqueiras assavam.
No entorno, pouca gente e, pelas ruas próximas, um silêncio incomum, típico da Feira de Santana de outros tempos. Quem ficou na cidade circulou pouco no domingo, talvez intimidado pelas chuvas intermitentes, pelo céu de nuvens cinzentas, de tons paulistanos.
À noite prevalece o silêncio, quebrado só pelos roncos de motores distantes, por um grilo persistente. Nuvens esbranquiçadas deslizam na orla do céu, opacas, contrastando com as tristonhas luzes citadinas. Ânimo mesmo só na transmissão do Carnaval nos aparelhos de tevê.
A noite do domingo de Carnaval é a mais estranha das noites de domingo na Feira de Santana. Não tem aquela melancolia típica dos domingos comuns porque, na segunda-feira, é feriado; mas, mesmo assim, há na atmosfera aquela tensão mercantil que aguarda, com ansiedade, a Quarta-Feira de Cinzas, a reabertura do comércio e o começo do ano de fato…
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