Percebo que, nos últimos tempos, escrevo com frequência sobre o clima, sobre mudanças climáticas. Não, não se trata de recurso de quem não tem assunto, nem de apelo de quem anseia ser lido e, por esta razão, recorre a assuntos polêmicos. É que a emergência climática está aí e não dá para ficar ignorando. O desastre no Rio Grande do Sul veio para comprovar – mais uma vez – que o assunto deve ser tratado com seriedade.
Por aqui não aconteceu nenhuma catástrofe comparável àquela que assola os gaúchos. Mas é indiscutível que o clima já não é o mesmo na Feira de Santana. A partir de setembro do ano passado, por exemplo, as temperaturas subiram, bordejando os 40 graus de sensação térmica com regularidade.
Um dia ou outro com calorão intenso, vá lá, sempre aconteceu; o mormaço que antecede as trovoadas, também sempre se viu. Mas a sucessão de canículas que tornou a vida por aqui quase insuportável foi novidade. Ardente novidade, diga-se de passagem. Depois vieram as chuvas, caudalosas, torrenciais, que alagaram parte da cidade. Até situação de emergência teve que ser decretada.
Sei que se vive aqui no Brasil a era dos negacionismos. Pior ainda: a do negacionismo do negacionismo, pois não falta quem faça ou diga absurdos e, depois, negue com cândido semblante. Noutros tempos, isso era cinismo. Mas, enfim, é melhor não perder o foco, como diria o coach, e voltar às graves questões climáticas.
Por mais que se negue, essas mudanças climáticas – e seus efeitos – estão aí, alcançando todos, mas, sobretudo, os mais pobres e os mais vulneráveis. É necessário começar a fazer alguma coisa. Aqui na Feira de Santana, por exemplo, é preciso começar a discutir a questão, ver o que é possível fazer em nível local.
Sempre observo que a melhor época de trazer discussões do gênero à tona é em período eleitoral, como o que se avizinha. O que pretendem fazer os candidatos a prefeito em relação à novidade – terrível novidade – das mudanças climáticas?
No Rio Grande do Sul fez-se pouco, revela a imprensa. Os valores reservados para a prevenção de desastres são ínfimos. Será que caminhamos – guardando as devidas proporções – para desventura semelhante aqui na Feira de Santana? É bom lembrar que não nos faltam estiagens, nem tempestades ocasionais. E – o que é mais preocupante – também nos falta planejamento.
Foto: Ricardo Stuckert/Agência Brasil
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