A imprensa costuma afirmar que os partidos de esquerda no Brasil não têm política eficiente de segurança pública. É verdade. A extrema-direita, que até outro dia estava no poder, também não. Ao contrário: o discurso de armar a população para a autodefesa serviu, no fundo, para equipar o crime organizado. Nunca o banditismo esteve tão bem armado. As milícias, – a variante do banditismo entrincheirada no Estado – por sua vez, puderam renovar seus arsenais, ampliar seu poder.
Vulnerável pelas ruas, a população enxerga o crime apenas nos ladrões de celular, nos traficantes miúdos pelas esquinas, nos descuidistas, nos assassinos sempre à espreita. Daí – em muitos casos – se render ao discurso fácil de mais polícia, mais viaturas, mais armas, mais munições, mais corpos estendidos no chão. Pouco informada, ignora que aquela é apenas a face mais visível, menos poderosa, menos complexa e menos sofisticada do crime.
No Brasil, hoje, o crime se aprimora e se organiza como nunca. Virou indústria, negócio altamente rentável. Seus ganhos não se distribuem apenas entre aqueles que se envolvem diretamente na atividade. Para que estes possam atuar, há uma vigorosa – e silenciosa – estrutura por trás. Políticos, empresários, policiais, membros do judiciário, servidores públicos, há muita gente beneficiando-se com a estrutura corrupta que ampara o crime.
Muitos que inflam o peito para criticar a descriminalização de drogas, por exemplo, estão pouco preocupados com saúde ou costumes. Defendem, no fundo, a estrutura corrupta e criminosa que os beneficia. Como essa gente embolsaria seus milhões se a produção e a comercialização de drogas fossem legalizadas? Essas questões, porém, surgem pouco na imprensa. Isso quando surgem.
Protegidos, os criminosos de colarinho branco ignoram a matança que se vê pelas ruas. Desde que seus lucros estejam assegurados, está tudo bem. Aliás, a própria expressão “criminoso de colarinho branco” sumiu da imprensa faz tempo. Hoje, há pouca gente disposta a importuná-los.
Vê-se pouca disposição na Bahia e na Feira de Santana para discutir essas questões. Aqui, aliás, a preocupação deveria ser grande. Afinal, despontamos como campeões nessa matança que deveria envergonhar o Brasil. Mas imagino que tudo vá seguir na mesma toada, como sempre seguiu. Não há debate sobre alternativas ao horror, à matança, ao extermínio. Essa – é necessário reconhecer – a extrema-direita ganhou…
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