Confesso que, sob determinados aspectos, tenho saudades da Era Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Obviamente, o terrível legado liberal – ou neoliberal – não deixou saudade nenhuma. Mas, naquele tempo, o brasileiro médio babava de admiração pelo então presidente, que falava inglês e francês, dera aulas em prestigiosas universidades da França e dos Estados Unidos e fora professor da Universidade de São Paulo.
Essa admiração sinalizava, até então, que o brasileiro nutria certa admiração pelo saber, pelo conhecimento. Tudo mudou 20 anos depois, – a reeleição de FHC foi em 1998 – pois o brasileiro médio jactava-se da própria ignorância e anunciava, com estardalhaço, que ia votar em alguém bem mais ignorante do que ele: Jair Bolsonaro, aquilo que muitos veneram como “mito”.
Os quatro anos posteriores ainda estão vivos na memória de quem sobreviveu. Ignorantes e analfabetos passaram, desde então, a “equiparar” a própria ignorância ao conhecimento e aos esforços de doutores e pós-doutores, à sabedoria de renomados cientistas. O delírio só poderia resultar na catástrofe do negacionismo e nas 700 mil mortes da pandemia de Covid-19, para não esticar a conversa e mencionar outros episódios.
Mas, inconformada, a turba decidiu que precisava de mais. Então, teria direito à própria realidade. E aos próprios fatos, obviamente. Daí começaram os virulentos ataques à imprensa e aos jornalistas. Hoje, pretendem equiparar sua delirante versão da realidade – as “fake news” – à própria realidade. Noves fora os fatos, veem tudo como um confronto de “narrativas”.
A usina de “narrativas” – é melhor “fake news” – escolheu, como bola da vez, o desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul. Estão pouco se lixando para os gaúchos vítimas das enchentes, assim como não ligaram a mínima para as vítimas da Covid-19. Ontem inventaram mentiras para manter o lunático que os guia no poder; agora, recorrem ao mesmo expediente para desgastar o governo eleito pela maioria dos brasileiros.
Para quem fez oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, não deixa de ser irônico sentir saudades. Afinal, naquela época prevaleciam um projeto de poder e uma concepção de sociedade dos quais muitos discordavam. Mas havia – é inegável – um compromisso com a civilização e com a própria democracia.
Quem peleja nos segmentos fanático e alucinado da oposição, hoje, tem compromisso só com a morte, a destruição e a barbárie. As delirantes mentiras sobre a tragédia no Rio Grande do Sul apenas vem – mais uma vez! – reforçar tudo aquilo que já se sabe…
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