Anos atrás fiz um texto sobre o hábito de apostar aqui na Feira de Santana. Creio que foi em 2017, por aí. Antes, portanto, da ampla liberação dos sites de apostas esportivas aqui no Brasil. O texto abordava desde as loterias regulamentadas até o jogo do bicho, passando pelas rifas – aquelas de papel – que muitos, em aperto financeiro, anunciavam entre amigos. Não faz tanto tempo, mas como a realidade mudou desde então!
No governo de Michel Temer (MDB-SP) – o “mandatário de Tietê” – veio o “libera geral” das apostas esportivas, sem regulamentação. Só no fim do ano passado aprovou-se uma lei em Brasília, inclusive prevendo a arrecadação de impostos. Houve pouca resistência: aqueles que defendem a pauta de costumes – com desassombro e estridência – se calaram.
Deus, pátria, família, vícios, costumes, pecado, nada foi invocado para barrar a aprovação. Pelo contrário: alguns, mais afoitos, cobravam pressa, afinal as bets não podem esperar. Já àquela altura as apostas rolavam soltas – sobretudo no ambiente esportivo – com ampla publicidade na imprensa. Poucas vozes se ergueram questionando o estímulo à jogatina desenfreada.
Atento, noto que de forma avassaladora – é bom frisar a expressão – o jogo incorporou-se ao cotidiano do brasileiro médio. Apostar, antes, era algo que enfrentava restrições. Certos jogos eram proibidos, era necessário deslocar-se até uma lotérica ou um ponto de jogo do bicho, etc.
Hoje, não. Basta um celular e dinheiro à disposição que o acesso é fácil e quase irrestrito. Só não perde muito dinheiro quem não se dispõe a jogar. O jogo é instantâneo, imediato, na velocidade alucinante da Internet. Tornou-se quase onipresente. Aqui ou ali, ouço frases, comentários e palpites sobre jogo. O vício, pelo visto, contamina principalmente gente muito jovem.
Começam a surgir, esporadicamente, notícias sobre o impacto do vício no dia-a-dia. Dívidas, falências, cobranças, constrangimentos e ameaças fazem parte da rotina de quem joga. Problemas de saúde, sobretudo mentais, e até suicídio figuram entre as consequências. Mas, por enquanto, isso é questão secundária. Os brasileiros estão inebriados pela jogatina, os olhos brilham com os anúncios luminosos que prometem grandes emoções e muito dinheiro.
Lá atrás – após décadas de muita luta – houve um freio no vício do cigarro. Com a bebida também, embora com menos intensidade. O vício da vez, no Brasil, é o jogo. Mas, por enquanto, ninguém diz nada, nem cobra nada dos governos.
Para alegria das bets.
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