Não se costuma dar grande importância às placas comemorativas ou às de inauguração. Elas vivem seu ápice nos solenes descerramentos e, depois, caem no esquecimento. Aquelas expostas ao tempo acumulam poeira, apanham chuvas inclementes, são castigadas pelo sol tropical. Com o passar dos anos, perdem o brilho inicial, ficam foscas, algumas ilegíveis. Quem passa costuma observá-las com indiferença – quando observa! – e segue em frente.
Mas é inegável que as placas contam parte da História. Vá lá, dentro de uma perspectiva mais simbólica que informativa. Afinal, os textos cravados nelas costumam ser curtos, quase sempre só com data e uma lista de nomes e de cargos. Às vezes a localização ou a matéria-prima utilizada na feitura, por exemplo, assumem mais importância, dizem muito sobre uma época ou um lugar.
Placas que vão se acumulando em órgãos ou instituições públicas também revelam bastante sobre sua trajetória. Boa parte refere-se apenas às inaugurações, mencionam governantes e – é inegável – oferecem uma versão da História sob um determinado ângulo.
Uma parte da História da Universidade Estadual de Feira de Santana, a Uefs, por exemplo, está contada em suas placas. Módulos – e mesmo prédios nos módulos – contam com essas referências. Aqui ou ali é possível localizar uma placa singular, distinta do padrão da mera formalidade inaugural.
É o caso da placa que registra a presença do então ministro da Educação, Eduardo Portella, na instituição. Ele compareceu à Uefs no dia 1° de setembro de 1979. Veio proferir a aula magna daquele semestre da recém-criada universidade feirense. Há, defronte a um dos auditórios do módulo 1, a placa alusiva à visita.
Eduardo Portella nasceu em Salvador e foi criado aqui na Feira de Santana. Descubro, pesquisando na Internet, que ele era filho de Maria Diva Matos Portella, que dá nome a uma escola feirense, no bairro Jardim Cruzeiro. Funcionário do Ministério da Educação e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tornou-se ministro em 1979. Saiu do cargo no ano seguinte, ao declarar apoio a uma greve de professores universitários.
Pouco depois de deixar o ministério, Eduardo Portella foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Desbancou ninguém menos que o poeta gaúcho Mario Quintana. A versão que circula até hoje é de que a eleição simbolizou um desagravo ao ex-ministro, pois Portella batia-se pela abertura política. O ex-presidente José Sarney foi dos que apoiaram a candidatura do ex-ministro baiano. Quintana, a despeito de sua inegável importância literária, foi preterido.
O fato é que a placa está lá, à vista de quem passa, muda, mas eloquente, prenhe de silêncios e simbolismos.
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