No texto anterior abordamos a questão do acesso à água tratada na Feira de Santana. Conforme mencionado, a situação não é das mais graves, considerando a realidade brasileira. O cenário muda de figura, porém, quando se considera a questão do esgotamento sanitário. Os números seguintes são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, o SNIS, relativos a 2021. As informações estão disponíveis no site do Instituto Água e Saneamento.
Com relação à coleta de esgoto, 345,5 mil habitantes da Feira de Santana contam com o serviço oferecido pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento, a Embasa. Isso corresponde a 55,37% da população feirense. Na Bahia, o percentual é até um pouco menor (55,14%), mas a situação do Brasil é mais confortável: 66,95%.
A população urbana que conta com o serviço corresponde a 345,5 mil pessoas, o equivalente a 60,35% desse segmento da população. A realidade é um pouco melhor que a da Bahia (54,42%), mas fica distante da média brasileira (71,87%). Há, portanto, muito o que avançar nessa seara.
O grande drama, porém, está no atendimento à população rural. Por aqui, só duas pessoas que residem no campo tem acesso ao sistema de esgotamento sanitário. Não é erro de digitação, é isso mesmo: só duas pessoas.
Assim, fossas individuais ou outras formas de descarte são a alternativa para quem não mora na zona urbana. No estado, o serviço está disponível para apenas 9,89% dos baianos que vivem no campo e, em nível nacional, para 62,52%.
A propósito, mora bastante gente no rural feirense: no Censo 2010, representavam 8,3% da população, o que correspondia a cerca de 46,2 mil pessoas. Era o equivalente a toda a população de Seabra naquele levantamento, a 48ª maior da Bahia.
É gente demais para vivendo sem o conforto do esgotamento sanitário. Pior ainda: sem nenhum tipo de sinalização de que podem contar com o serviço mais à frente. Desde o Brasil Colônia, o Império, a República Velha, até os dias atuais, nada mudou em relação à questão. Frise-se: também não há sinalização de que vá mudar.
No texto anterior mencionamos que a privatização dos serviços – tentada em diversas partes do mundo – não necessariamente melhora a qualidade, mas sempre implica em considerável elevação dos preços destes serviços. Em muitos lugares a medida foi revogada.
“Privatiza que otimiza”, gritará um desses liberais lacradores de mídia social. O problema é que, no caso do rural feirense, privatizar nem sequer figura como alternativa. Afinal, quem vai se interessar por levar saneamento a áreas rurais, cuja população é pobre e onde inexistem ganhos de escala? Nem vale a pena perder tempo repelindo especulações do gênero.
O fato é que os números do SNIS revelam uma situação vexatória no rural feirense no que se refere à oferta de esgoto. É ano eleitoral, seria bom que o tema fosse colocado em debate.
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[…] Em artigo sempre impecável, o jornalista e economista André Pomponet revela números da discrepância entre a zona urbana, a sede, a chamada Cidade, e a zona rural da Feira de Santana. No Censo 2010, representava 8,3% da população, o que correspondia a cerca de 46,2 mil pessoas. A atual presidente do MOC, a líder sindicalista rural Conceição Borges, há muito expressa essa percepção de desprezo social e cultural a que a zona rural é submetida ou vista e que se reflete no tratamento profundamente desigual e paternalista (demagógico) por parte do Poder Público. Os choques e interações culturais entre o rural e o urbano me parecem pouco discutidas nesses tempos em que pautas mais efervescentes, como a identitária, por exemplo, ocupam o debate público e, suponho, acadêmico. Um município com oito distritos, centenas de povoados e localidades rurais tem obrigação de repensar e refazer prioridades contando com esse capital territorial (e ambiental) que poucos municípios brasileiros têm. Quando chega uma época como o São João e fácil ver como a zona rural tem ligação com o morador da cidade. Festas públicas, ou privadas, nos distritos, nas praças, em chácaras, sítios, casas de amigos e parentes, uma multidão deixa a cidade. A maioria da população feirense tem um pé na zona rural. Mesmo assim, há uma “vergonha” do tabaréu, das feiras, da espontaneidade rural que há na Cidade. Até a Prefeitura que promove festas juninas, somente nos distritos, chama esse evento de Feira CIDADE Forró… […]