No último dia 21, o Terreiro de Jarê Peji da Pedra Branca e a comunidade do Curupati, localizados dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PARNA), foram alvo de ação de fiscalização de agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o terreiro liderado por Gilberto Tito de Araújo, conhecido como Damaré, foi invadido por agentes do ICMBio, que destruíram o espaço sagrado e mais de 10 casas onde residiam cerca de 35 famílias. A comunidade alega que a ação foi realizada sem diálogo com os moradores, nem notificações prévias, nem negociação com autoridades municipais. Moradores locais afirmam que a roça pertencia ao pai de Damaré há mais de 45 anos, antes da instalação do parque.
Em nota, a gestão do PARNA (Unidade de Proteção Integral, que proibe assentamentos humanos dentro do perímetro do Parque) argumenta que as construções são recentes e que não tinha conhecimento do referido terreiro, nem identificou o local como centro religioso, no momento da fiscalização.
O Ministério Público da Bahia já comunicou que cobrará medidas para reconhecimento da prática do Jarê como patrimônio cultural.
A socióloga e professora Maria Medrado lembra que desde a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina em 1985, comunidades e povos tradicionais lutam para garantir seus direitos, sobrepostos pela Unidade de Conservação. Medrado defendeu uma tese de doutorado sobre a violação de direitos e conflitos socioambientais provocados pela implantação do PARNA
Segundo a antropóloga Paula Zanardi, especialista em povos tradicionais, o terreiro de Damaré é parte dos poucos terreiros que ainda resistem em Lençóis, preservando e difundindo a memória do garimpo e práticas religiosas afro-indígenas. A pesquisadora estuda os Terreiros de Jarê da cidade e entende que a violação demonstra um desrespeito à memória, às tradições culturais seculares e à diversidade religiosa chapadeira.