Uma mulher grande. Grande na idade. Grande em alguns de seus tantos feitos. Grande nos sonhos e grande, sobretudo, nos propósitos reais que têm pela frente e pra já. Assim é Alda Cruz, mãe de cinco filhos – um deles já do outro lado da vida -, 17 netos e bisnetos que ela mesma perdeu a conta. São tantos que tem bisneta até em Londres, na Inglaterra.
Mas quer mais grandeza no histórico desta Alda Cruz? Pois tem: ela é autora de 182 livretos de cordel, o que lhe rendeu o apelido de Alda Cordelista. “E todos são bem numerados, pra eu não me perder na conta”, diz ela, com bom humor.Mas a maior grandeza mesmo de Alda Cruz está na longevidade lúcida e no que ela pensa sobre isso e para isso: são 94 anos, o que seguramente faz dela a candidata a vereadora mais velha do Estado de Sergipe e, talvez, do Brasil inteiro. Vai às urnas com o nome de Alda Cordelista.
Se Alda Cordelista for de fato eleita no dia 6 de outubro, acessará a Câmara Municipal de São Cristóvão, a mais velha cidade de Sergipe e quarta mais antiga do Brasil, com 95 anos bem completados.
Pois é: no dia 15 de novembro deste ano, Alda, uma mulher negra e viúva de um esposo que trabalhou no INSS, vai completar nada menos dos 34 mil 675 dias de vida. A dicção dela tem a anatomia da dicção de uma pessoa de 70 anos. É firme. Sem vacilos.
Essa mulher já viu coisas do “arco da nova” – não se pode mais falar/escrever “arco da velha”. Isso seria idadismo ou etarismo, e nesse tempo chato e policialesco do politicamente correto pode gerar más interpretações. Censuras…
Alda Cordelista é, de fato, figura humana de alta voltagem. Pessoa altamente positiva. Se diz uma “de escorpião braba como o povo de escorpião”.
Esta será a terceira vez que ela buscará de um mandato de vereadora. Lá no final dos anos 1990 e início dos 2000, tentou duas vezes. Deu em nada.
Com terceiro grau completo – fez Pedagogia -, Alda teve escola particular, foi professora do serviço público e auditora pública, de onde vem a aposentadoria dela pela Receita Federal.
Hoje, com aquela ruma de livros todos, é membro da Academia de Letras de São Cristóvão, titular da cadeira de número 9, cujo patrono é o pai dela, Otávio Francisco dos Santos.
Montada neste histórico todo, sobretudo no da idade, não poderia ser outra a plataforma de campanha dela senão a das questões do povo idoso – e esses são cada dia uma grande parcela da comunidade em qualquer parte do Brasil.
“Eu gostaria que todo mundo pensasse em favor de uma pauta dos mais velhos. Por mais criança que a pessoa fosse, que pensasse no idoso. A vida é um arco-íris, começa pequeninha e vai acendendo até gerar o idoso. Tenho um dos meus livretos de cordel cujo título é “Cuidar de quem cuidou”. É nisso que penso”, diz ela.
“De um modo em geral, os brasileiros não tratam bem os idosos. E eles também, por si mesmos, se renegam. Por quê? Porque o idoso brasileiro não vê apoio de ninguém e termina achando que o lugar dele é mesmo o de renegado”, filosofa.
Filiada ao PSB, Alda está no agrupamento que tem o vereador Diego Prado, PSD, como candidato a prefeito da velha cidade sergipana. “Pelo menos quando você pensa que gostaria que fizessem por você o que você faz pelos outros, já é meio caminho andado”, diz ela.
“O que digo é que não gostaria de estar na Câmara Municipal de São Cristóvão apenas legislando. Eu gostaria que alguém pensasse como penso, de chegar em uma casa de São Cristóvão ou de todos os municípios do Estado e lembrar àquele morador velho o que ele já foi, de como viveu a vida, o que ele pensa da infância de hoje, da que eu vivi e de como estão os idosos”, diz ela.
Eleita ou não em outubro, Alda Cordelista já pensa desde hoje que é uma vitoriosa. “Espero chegar lá na Câmara Municipal de São Cristóvão e, se eu não chegar, já cheguei mesmo assim – esta é a minha verdade aos 94 anos”, diz ela.
“Mas sabe por que? Porque eu queria que o meu candidato a prefeito, e qualquer outro candidato ou prefeito, me olhasse com a ideia de que sou uma pessoa que quer trabalhar com o idoso e pelo idoso”, diz ela.
“Eu tenho esperança em Deus de que o Diego, uma vez prefeito, me dê a mesma atenção que vem me dando, porque gostaria de chegar lá, deixar um suplente em meu lugar e ir para o campo em favor do idoso, porque sempre trabalhei no campo, fora da burocracia”, diz ela.
Ou seja, esta Alda Cordelista busca uma vaga na Câmara, mas não esconde o desejo de ser uma secretária municipal na esfera da assistência às pessoas idosas. Não deixa de ser outra novidade desta senhora de quase 100 anos.