Assim como um Fla x Flu, ou para ser mais regional, um Ba x Vi, eram as disputas entre as filarmônicas de Feira de Santana no final do século XIX e até metade do século XX. Nas festas religiosas e políticas, eventos da alta sociedade e nas retretas realizadas nos coretos da Princesa, elas geravam grande expectativa, participação expressiva da população e, depois de tudo, comentários e discussões que poderiam durar dias. Sem rádio e televisão, sem clubes sociais, as filarmônicas canalizavam as atenções aqui, como também ocorria em outras cidades.
Cada instituição musical tinha seus admiradores e associados que propiciavam recursos financeiros para mantê-las. Através das filarmônicas surgiram excelentes músicos que seguiram carreira profissional. Todavia, a maior parte era constituída por alfaiates, barbeiros, sapateiros, comerciários e artesãos de um modo geral, mas havia também, em menor proporção, militantes de outras profissões.
A Filarmônica 25 de Março, surgida exatamente nesse dia, em 1868, é a mais antiga do município, com 156 anos, e desfrutava de enorme prestígio pela qualidade dos seus integrantes. Era ligada ao grupo político da UDN, e entre outros nomes de relevância dessa instituição musical figuraram os maestros Estevão Moura e João Aves de Souza. A 25 de Março teve participação em muitos eventos em outros municípios e até no carnaval de Salvador.
Todavia, a mais expressiva das suas incursões fora da cidade Princesa foi em um concurso nacional de bandas musicais de vários estados brasileiros, realizado no Rio de Janeiro na década de 1970. A 25 de Março foi considerada a melhor filarmônica do país, mas ficou em terceiro lugar devido ao voto do maestro Júlio Medaglia, um dos que compunham a mesa julgadora. Houve protestos e até acusações de parcialidade em favor da representação vencedora.
Cinco anos depois da Filarmônica 25 de Março, em 1873, foi consolidada a segunda representação musical da cidade, a Filarmônica Vitória, que foi uma das muitas iniciativas do padre Ovídio Alves de São Boaventura, o vigário da Freguesia de Santana. Tertuliano Santos Silva e Manoel Tranquilino Bastos foram maestros que se destacaram comandando a Vitória, que era a preferida dos militantes do PSD.
Com a existência dessas duas entidades, tornou-se enorme a rivalidade nas tocatas, com preferências definidas pela população, verificando-se até entreveros. Um autêntico Fla x Flu musical. Quem era adepto de uma filarmônica não pisava no passeio da outra entidade.
A terceira filarmônica, a Euterpe Feirense, a caçula, veio bem depois, em dezembro de 1921, fundada por Leolindo Ramos Júnior. Embora não tenha participado tão intensamente das disputas geradas pelas anteriores, teve a importante missão de abrigar, através do seu salão de bailes, grandes festas micaretescas e shows com cantores populares. A Euterpe contou com conceituados maestros como Aloísio Pimenta, Antônio Menezes, Nilo Pereira, Álvaro Lima, Onório Rios e Armando Nobre.
Além dessas três filarmônicas, a banda de música do 1º Batalhão da Polícia Militar também foi muito admirada pelo público. Quando ainda no antigo quartel, na Praça Carlos Bahia, os ensaios feitos na praça eram acompanhados por muitas pessoas.
Atualmente a Filarmônica 25 de Março, a segunda mais antiga da Bahia, é a única que mantém atividade regular. Sob a presidência do professor e secretário municipal de Planejamento, Carlos Alberto Brito, a instituição mantém a Escola de Música Maestro Moura, sob a regência de Antônio Neves Batista, com 25 jovens músicos, todos tocando com pauta. Carlos Brito tem instituído interessantes programações, como “Música no Casarão”, com apresentações da banda no Casarão Fróes da Mota, que atraem grande público.
Além disso, a 25 de Março vem abrilhantando as programações religiosas, apresentando-se em diversas procissões como fazia antigamente. A “Retreta no Coreto” é outra programação no elenco da filarmônica, sendo ideia do presidente Carlos Brito convidar congêneres de outras cidades para apresentações conjuntas. Outro projeto importante do gestor é a reforma do prédio sede da 25 de Março, na rua Conselheiro Franco, o que deve ocorrer no próximo ano.
Esta reportagem faz parte da série de matérias especiais elaboradas pela Secretaria de Comunicação Social, destacando personalidades feirenses, monumentos, órgãos e empresas que fazem parte da história do município. A iniciativa comemora o aniversário de 191 anos de emancipação político-administrativa de Feira de Santana, celebrado em 18 de setembro.