Charles Albert e André, integrantes da banda musical Los Mexicanitos, viveram durante muitos anos em Feira de Santana e enriqueceram o cenário artístico local. Cantores, dançarinos, figurinistas e artistas plásticos, tiveram notável participação na Micareta, levando o nome da cidade ao cenário nacional do Carnaval, com premiadas fantasias de luxo.
“Quem foi Charles Albert?” Se a pergunta for feita a um jovem de Feira de Santana, das gerações mais recentes, dificilmente haverá uma resposta concreta ou coerente. Um rei? Um jogador de futebol? Um cantor famoso ou artista de TV? Embora essas respostas possam parecer plausíveis, nenhuma reflete a verdade sobre esse personagem que marcou a história cultural da cidade.
Entretanto, conversando com pessoas mais velhas ou ligadas ao meio artístico, é possível conhecer parte da história de Charles Albert, um artista de múltiplos talentos que chegou a Feira de Santana no final da década de 1960 e viveu na cidade até o fim de sua vida, sempre ao lado de seu amigo-irmão, André.
Charles, nascido em 1918 em Misiones, Argentina, era cantor do conjunto musical mexicano Los Mexicanitos, que fazia sucesso em vários países da América Latina. Foi nesse grupo que conheceu André, um chileno também talentoso, com quem desenvolveu uma forte amizade. Além de cantar, os dois eram exímios dançarinos e apresentavam espetáculos que combinavam boleros, mambos, cha-cha-cha e outros ritmos caribenhos.
Em 1967, durante uma temporada no Brasil, um acidente rodoviário em Vitória da Conquista destruiu grande parte dos equipamentos e figurinos do grupo. A tragédia resultou na desativação da banda, e Charles decidiu fixar residência em Feira de Santana, sendo acompanhado por André.
Os dois, além de cantores, eram artistas plásticos completos: pintores, tapeceiros, decoradores e costureiros. Instalaram um ateliê na cidade e passaram a produzir peças artísticas para clubes sociais e atores locais. Logo, começaram a trabalhar na decoração de carros alegóricos da Micareta, incluindo os trajes do Rei Momo e da corte da festa.
Charles e André deixaram de lado a música para se dedicar inteiramente às artes plásticas e à confecção de figurinos. Seus trabalhos ultrapassaram os limites da Micareta, alcançando prestígio nacional em desfiles de fantasias de luxo. Em 1970, Charles venceu o Desfile de Fantasias de Luxo do Clube Monte Líbano, no Rio de Janeiro, com a fantasia México, Passado, Presente e Futuro. Outras criações, como Tesouro de Machu Picchu e Vaqueiro ao Luar do Sertão, também receberam destaque em competições nacionais e internacionais.
Charles Albert faleceu em 1992, aos 74 anos, e foi sepultado em Feira de Santana, como desejava. André, seu fiel companheiro, também foi sepultado na cidade. Ambos deixaram um legado artístico e cultural imensurável, tornando-se parte da história de Feira de Santana.