É impressionante o crescimento do número de pessoas vivendo nas ruas nas grandes cidades brasileiras. Notícia recente até estima o total: 327,9 mil em 2024, contra 261,6 mil no ano anterior. O aumento é de 25% e o levantamento é do Observatório de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais. Como é fácil imaginar, a maior quantidade está no estado de São Paulo, com 139,7 mil pessoas nessa condição.
Na capital paulista a quantidade impressiona. A foto que ilustra o texto foi tirada no cruzamento das ruas Augusta e Antônio Carlos, a poucas quadras da badalada Avenida Paulista. Há alguns dias, num início de tarde, em meio à incessante multidão de passantes, alguns desafortunados devoraram suas marmitas e depois deitaram tranquilamente, ignorando a ameaça de temporal.
Há de tudo pelas ruas de São Paulo. Desde crônicos usuários de drogas, devastados pelo consumo compulsivo, até famílias com crianças, alijadas de um teto pelos proibitivos preços dos alugueis na metrópole paulistana. Muitos ainda sofrem com os efeitos da pandemia, cuja longa suspensão das atividades produtivas esgotou poupanças e elevou a pobreza.
Quem observa a variedade de perfis, porém, começa a notar um fenômeno novo. Novo talvez não, mas que vem ganhando amplitude. Trata-se de ex-presidiários vivendo pelas ruas. São homens jovens ou de meia idade, circulam sozinhos e, embora alguns tentem sobreviver com a reciclagem, não deixam de estar atentos a qualquer oportunidade escusa.
Os trejeitos de corpo, o vocabulário, o olhar arisco, as tatuagens, a postura, tudo insinua a vivência no cárcere – e no crime. Não é preciso ser muito inteligente para deduzir que o fenômeno resulta da política de encarceramento em massa, histeria da moda no Brasil. Depois da prisão, muita gente conquista a liberdade e, sem opções, vai viver nas ruas.
É bom ressaltar que o fenômeno não se restringe a metrópoles como São Paulo ou o Rio de Janeiro. É visível também em Salvador, no centro antigo, mas inclui locais de grande apelo turístico, como o Pelourinho ou o Porto da Barra. Em magotes, ocupam as calçadas, mendigam e – caso surja a oportunidade – praticam pequenos furtos.
Aqui na Feira de Santana – sobretudo no centro da cidade – é visível o degradante cenário do consumo de drogas, com “cracolândias” miúdas. Mas não parece existir – em larga escala pelo menos – o crescimento da população de rua oriunda do cárcere. É bom lembrar, porém, que o município abriga um presídio com uma das maiores populações de detentos na Bahia e, no longo prazo, pode experimentar drama semelhante àquele vivido nas grandes metrópoles…
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