
O curso de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) tem se destacado não apenas pela qualidade de seu ensino, mas também pela crescente procura, como ocorreu, agora, no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O curso, que este ano completa 27 anos de fundação, registrou a terceira maior demanda entre todas as graduações das universidades da Bahia, um feito que reflete a excelência acadêmica da Instituição e o crescente interesse dos estudantes pela área jurídica. A busca por uma formação sólida, que alia teoria e prática, tem atraído cada vez mais candidatos em busca de uma formação de alto nível.
Para entender os fatores que têm contribuído para esse sucesso, o editor do Feira Hoje, Everaldo Goes, conversou com professores da UEFS, especialistas na área, que compartilharam suas percepções sobre o desempenho do curso e as expectativas para o futuro. Nessa entrevista abaixo, exclusiva, a coordenadora do Colegiado de Direito, Márcia Costa Misi, analisa desde o perfil dos ingressantes até os desafios enfrentados pela instituição, oferecendo uma visão detalhada sobre o processo de ensino-aprendizagem e as demandas do mercado jurídico.
Everaldo Goes – O curso de Direito da Uefs tem se destacado nas últimas seleções. Quais fatores, na sua opinião, contribuem para esse aumento da procura e reconhecimento?
Márcia Misi – Acredito que o bom desempenho do nosso curso nos formatos de avaliação existentes (Exame da OAB – recebimento do selo OAB Indica em todas as versões que participou; e ENADE – obteve o conceito máximo e a maior nota dos cursos de direito da Bahia). Além do mais, a sólida formação oferecida repercute na boa inserção de nossos egressos no mercado de trabalho. Essas conquistas não são pontuais e, ao longo dos 26 anos do curso, se tornam conhecidas.
EG – Quais medidas a Uefs tem adotado para garantir a qualidade do ensino e o suporte adequado aos seus alunos, especialmente diante do crescente interesse no curso?
MM – A UEFS está fortalecendo serviços de suporte a estudantes com necessidades especiais, que inclui a residência universitária (que conta com um alojamento específico para estudantes indígenas) e a política de subsídio ao restaurante universitário. Outro diferencial da nossa universidade é a existência de programas consolidados de apoio à iniciação científica, extensão, monitoria e mobilidade acadêmica internacional, inclusive com a concessão de bolsas.
O nosso curso de direito tem um corpo docente com perfil diversificado, o que permite o desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão em vários ramos do direito, além do contato dos estudantes com professores de carreiras jurídicas diferenciadas. Desse modo, contamos com professores juizes, delegados, advogados, promotores, procuradores e docentes que atuam em regime de dedicação exclusiva.
Como uma boa universidade pública, a UEFS oferece a seus estudantes oportunidades de formação fora da sala de aula, além de interação com outros cursos. Recentemente foi aprovado o Mestrado em Direito no formato associativo entre as quatro UEBAs, que deve ser implantado no segundo semestre de 2025. Certamente a interação entre graduação e pós-graduação vai qualificar ainda mais a formação oferecida pela Universidade.
EG – Houve alguma mudança no perfil dos candidatos ao curso de Direito da Uefs? O que isso revela sobre a atual demanda por essa formação acadêmica?
MM – Desde que houve implantação das cotas, especialmente a partir da adoção do sistema de heteroidentificação, a diversidade do perfil dos estudantes tem se fortalecido. Esse fator tem contribuído muito para a inserção de debates importantes no nosso curso, como a temática da relação entre direito e questões raciais, da diversidade sexual e das demandas relacionadas às comunidades tradicionais.
EG – Com o aumento da procura, quais investimentos a universidade tem feito para melhorar a infraestrutura e os recursos disponíveis para os alunos e docentes do curso?
MM – Recentemente houve recomposição do quadro docente com concurso público e seleção para contrato temporário. A Universidade também está recompondo o seu quadro de servidores técnicos. Importante destacar o investimento na formação do corpo docente e do corpo técnico em cursos de pós-graduação stricto sensu A Biblioteca está investindo em formação de acervo virtual, o que facilita o acesso dos estudantes. Está em processo de finalização a montagem de uma sala de vídeo conferência, que permitirá o uso da tecnologia para contar com a contribuição de parceiros de vários lugares do Brasil e do mundo.
EG – Como a Uefs tem trabalhado em parcerias com o setor público e privado para oferecer oportunidades de estágio e prática profissional para os alunos de Direito?
MM – O nosso curso de direito tem uma coordenação de estágio que acompanha a celebração dos contratos de estágio, realizados com uma variedade de parceiros tanto no setor público, quanto privado.
EG – Quais são os maiores desafios enfrentados pelos alunos de Direito hoje em dia e como o curso da UEFS se adapta para preparar seus alunos para esses desafios?
MM – Acredito que o maior desafio é superar uma tradicional formação jurídica extremamente abstrata, desconectada da realidade social.
O curso de direito da UEFS se destaca por envidar esforços para oferecer uma formação jurídica socialmente contextualizada. Isso se expressa na matriz curricular, nos diversos projetos de pesquisa e extensão e nas frequentes viagens de campo que proporcionam aos estudantes contatos com a realidade social.
Essa ênfase fortalece uma importante habilidade em nossos egressos: a capacidade de adaptação às rápidas transformações do nosso tempo.
EG – Considerando o atual cenário jurídico no Brasil, como a Uefs tem orientado seus alunos sobre o mercado de trabalho e as novas áreas de atuação para os bacharéis em Direito?
MM – Essa orientação ocorre de forma natural ao longo do curso. As diversas oportunidades oferecidas para nossos estudantes permitem que se mantenham atualizados para novas áreas de atuação para os bacharéis em Direito e, assim, possam escolher de acordo com suas preferências individuais.
EG – Há alguma inovação pedagógica no curso, como o uso de novas tecnologias ou metodologias de ensino, que tenha se mostrado eficaz no processo de aprendizado dos alunos?
MM – Estamos experimentando inserir a interdisciplinaridade como metodologia de ensino. Também estamos iniciando a implantação da curricularização da extensão, uma exigência do MEC que oficializa uma prática que já existe no nosso curso.
EG – Em tempos de crise de confiança nas instituições, qual a importância da formação ética para os futuros advogados e como o curso da Uefs aborda esse tema?
MM – O profissional egresso curso de direito da UEFS é conhecido por sua sensibilidade em relação às demandas sociais de um país que enfrenta profundas desigualdades. Isso se deve à formação humanista que recebe e que está refletida na nossa matriz curricular. Temos um currículo que reconhece a importância de conhecimentos extrajurídicos para conhecer a realidade social onde se aplica o direito e de se comprometer com as transformações necessária s e possíveis para diminuir as desigualdades sociais.
Everaldo Góes é graduado em História pela UEFS, jornalista, edita o site Feira Hoje.