
As chuvas já fazem parte da história da Micareta de Feira (o primeiro Carnaval fora de época do Brasil) como uma das causas do seu surgimento há cerca de 80 anos e raramente não chove em dias de folia, mas os shows que anteciparam a abertura oficial da festa, quarta-feira, 30, na Praça Padre Ovídio, foram inéditos sob muitos aspectos: todos os participantes são artistas nascidos em Feira e com trajetórias que vão muito além de palcos feirenses. Rachel Reis, Tonho Dionorina, Quixabeira da Matinha e a famosíssima banda Baiana System, liderada pelo feirense PapaRusso, pela primeira vez fazendo um show na Micareta e, de quebra, Lazzo Matumbi, cantor soteropolitano de grande público em toda a Bahia.
Rachel Reis, filha de outra cantora, feirense, Maura Reis, dialogou com o público, lembrou o tempo em que tocava nos ‘barzinhos’ e da mãe dela cantando ali, naquela Praça. O grupo Quixabeira da Matinha tocou composições inéditas e fez a praça entrar no legítimo samba-de-roda rural, nascido no quilombo.
Tonho Dionorina também fez referência a outro “artista da terra”, já falecido, Jorge de Angélica, ao cantar uma letra feita por Jorge e musicada por ele: “Jorge Radical”:
“Jorge Radical / tem um canto tribal/ não pensa no mal/ não come nada de ninguém/não tem dinheiro, mas passa bem / Porque tem o apoio forte da mãe e da mulher que ele ama /Jorge Radical/ Não tem inimigos/ ,Jorge Radical /só alguns falsos amigos/ Jorge Radical/ não é o perigo não, Jorge sabe como se defender/ já dançou candomblé,/ já tocou axexê, baticum/ joga capoeira e bota otário pra correr/ Jorge Radical/ dá cabeçada e rasteira/ canta reggae afro e afoxé pro povo da Rua Nova, pro Pomba de Malê / Jorge Radical”.
No momento em que Dionorina cantou esta música estava também no palco, Ivannide Santa Bárbara, notável liderança negra de Feira. Ambos, ela e Tonho, vestidos com camisas estampadas com a imagem de Jorge, o radical da Rua Nova.
fotos: PapaRusso e Dionorina no telão e Paparusso chegando na praça Padre Ovidio