
O papo sobre o empreendedorismo está ficando longo. Mas não pretendo lançar um tratado, tampouco esgotar o tema, menos ainda apresentar verdades definitivas, mesmo que estas não existem. É sempre bom lembrar que o termo empreendedorismo abarca um universo de atividades produtivas que vão desde o biscate numa borracharia empoeirada até uma loja luminosa num shopping de endinheirados. Lançar tudo num mesmo balaio é inadequado como conceito, como método e, sobretudo, como referência na construção de políticas públicas.
Encarar o tema sob a perspectiva do poder público não é trivial. Afinal, os problemas que o envolvem são visíveis na dimensão do planejamento, mas, sobretudo, da gestão. É bom lembrar que as dificuldades e desafios se apresentam nos entes federal, estadual e municipal, com gargalos nas esferas de atuação de cada poder. Mas é melhor não problematizar tanto: há avanços também, é necessário reconhecer.
É bom lembrar que a Cidade Comercial da Feira de Sant’Ana sempre teve vocação empreendedora. Nos primórdios, a feira-livre atraía consumidores e vendedores das redondezas. Depois, quando o setor de serviços ganhou impulso, a Feira de Santana ajustou-se a estas transformações, amparada por sua índole empreendedora. O empreendedorismo aqui, portanto, é vocação natural.
O símbolo maior dessa vocação é, sem dúvida, o Feiraguay. O comércio de rua é forte, mas o entreposto nos fundos da Catedral de Santana é mítico, conhecido Bahia afora e até mesmo fora dos limites do estado. Alvo de muita polêmica nos seus primórdios, firmou-se gerando ocupação e renda. É, certamente, a encarnação da resiliência no empreendedorismo feirense.
Na direção oposta está o shopping popular, contíguo ao Centro de Abastecimento. Anunciado como um dos maiores empreendimentos do gênero no Nordeste, não ganhou vitalidade nem nestes tempos de aumentos reais no salário-mínimo, de ampliação de benefícios sociais, de maior dinamismo na economia popular. Quem está lá e empreende sofre, como se vê no noticiário.
Os dois exemplos mostram como a questão do empreendedorismo é complexa. No Feiraguay, quase sempre a intervenção dos governos foi para atrapalhar; no shopping popular, o governo atrapalhou muito sem planejamento adequado ou projeto de gestão satisfatório. “Ah! O Estado não deve se envolver”, gritará o liberal iconoclasta. Obviamente, não se trata disto. Trata-se de que a intervenção deve ser planejada e a gestão, azeitada.
Num texto curto, parece clichê ou fórmula rasa. Mas, na prática, percebe-se a importância do papel dos governos na regulação da atividade e no apoio ao empreendedorismo, nestes tempos de empregos precarizados. Em suma, os governantes precisam conhecer o perfil do empreendedor e do empreendimento para oferecer o imprescindível suporte a estas atividades.
Bom, a conversa está longa e é bom findar por aqui. Mas o tema pulsa. Lá adiante, será necessário retomá-lo.
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